Moradores são obrigados a deixar área próxima a barragem em Brumadinho
Estrutura da Emicon está sem manutenção, embargada e sem estudos atualizados, elevando o nível de emergência
Por Plox
24/07/2025 08h44 - Atualizado há 9 dias
Moradores da comunidade de Vale do Ingá, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão sendo forçados a deixar suas casas após um alerta emitido pela Agência Nacional de Mineração (ANM). O motivo é a elevação do nível de emergência da barragem B1-A, pertencente à Emicon Mineração e Terraplanagem, que passou do nível 1 para o nível 2 na escala de risco.

Apesar de não haver sinais visíveis de que a estrutura esteja prestes a romper, a ANM optou pela medida por não haver estudos geotécnicos recentes e confiáveis que garantam a segurança do local. A barragem, situada na Serra da Conquista e dentro da sub-bacia do Córrego dos Quéias, está desativada e embargada por falta de documentação obrigatória como a Declaração de Conformidade e Operacionalidade (DCO) referente a 2025.
A situação se agrava ainda mais porque outras três estruturas da mesma empresa – Quéias, Dique B3 e Dique B4 – também estão embargadas. Juntas, essas barragens acumulam cerca de 118,3 mil m³ de rejeitos de minério, o que, mesmo sendo volume inferior ao da tragédia de 2019 com a barragem da Vale, representa um risco considerável para as comunidades próximas e para a rodovia BR-381.
A Prefeitura de Brumadinho, por meio da Defesa Civil, iniciou o processo de evacuação da Zona de Autossalvamento (ZAS), que inclui cerca de 40 pessoas, entre moradores fixos e trabalhadores rurais. Durante uma inspeção recente, foi constatado que parte da população havia retornado às residências, mesmo após orientações anteriores para evacuação.
O mecânico Roberto do Nascimento Hastenreiter, de 74 anos, é um dos que se recusa a abandonar sua casa. “Não vou largar tudo dentro da minha casa. Todo mundo está revoltado. Nós moramos aqui na comunidade do Vale do Ingá há muitos anos”, desabafou.
Segundo a ANM, embora a elevação para o nível 2 indique a necessidade de evacuação, isso não significa que o rompimento seja iminente.
“É importante ressaltar que não foram detectadas anomalias estruturais que indiquem risco iminente de ruptura da barragem”,
declarou a agência.
A barragem B1-A, que possui 15 metros de altura e capacidade para 75 mil m³ de rejeitos, está localizada a menos de um quilômetro da Rodovia Fernão Dias e a 5,5 quilômetros da barragem Rio Manso, da Copasa, responsável pelo abastecimento de 1,5 milhão de pessoas.
Em resposta à crise, a prefeitura criou a Comissão Estratégica Municipal, com representantes de secretarias, da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, para coordenar a evacuação e manter a população informada. O prefeito Gabriel Parreiras reforçou que se trata de uma medida preventiva, enquanto a secretária de Segurança Pública, Rosely Baeta, destacou que a gestão municipal já vinha intensificando as fiscalizações na região.
O Ministério Público de Minas Gerais acompanha o caso de perto, exigindo judicialmente que a Emicon cumpra um Termo de Compromisso assinado em 2022 para a descaracterização das barragens. Em uma nota técnica de outubro de 2024, a ANM já havia alertado para o abandono das estruturas, sem funcionários ou monitoramento ativo.
Dentre os problemas mais graves estão a ausência de videomonitoramento 24 horas, inexistência de dispositivos de alerta e falhas no cumprimento do Plano de Ação de Emergência (PAEBM). Por essas razões, a Justiça determinou, inclusive, a apreensão dos passaportes dos sócios da Emicon e aplicou multas.
A classificação de risco das barragens segue o protocolo da ANM com base no Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM). O Nível 1 indica anomalias, mas sem risco iminente. O Nível 2, no qual se encontra a B1-A, exige evacuação imediata, pois representa risco significativo à vida, principalmente em regiões onde não há tempo hábil para a chegada de equipes de resgate. Já o Nível 3 caracteriza rompimento iminente ou já em curso.
Enquanto novas análises técnicas são aguardadas, a ANM determinou a contratação de uma empresa independente para realizar estudos atualizados. A prefeitura segue monitorando a situação em conjunto com órgãos estaduais e federais, buscando garantir segurança e assistência às famílias afetadas.