Três décadas após sua criação, Lei de Cotas ainda é essencial para inclusão de pessoas com deficiência
Pesquisa revela que grande parte dos profissionais com deficiência enfrentam preconceito no ambiente de trabalho, apesar da legislação vigente há 34 anos
Por Plox
24/07/2025 07h52 - Atualizado há cerca de 2 meses
Trinta e quatro anos após a criação da Lei de Cotas, o mercado de trabalho brasileiro ainda apresenta grandes desafios para pessoas com deficiência (PcDs) ou neurodivergentes. A norma, instituída em 1991, obriga empresas com mais de 100 funcionários a destinarem entre 2% e 5% de seus postos a esse público, sendo considerada até hoje o principal instrumento de acesso formal ao emprego para esse grupo.

A percepção da importância da legislação foi medida por meio da pesquisa \"Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência\", realizada com 1.230 pessoas acima dos 18 anos que se identificam como PcDs ou neurodivergentes. De acordo com o levantamento, 95% dos participantes acreditam que a Lei de Cotas é indispensável e deve continuar existindo.
Contudo, o estudo também revela um cenário preocupante: 73% dos entrevistados já vivenciaram algum tipo de preconceito em seus locais de trabalho por conta de sua condição. Além disso, 42% afirmaram que foram contratados unicamente para que a empresa cumprisse a exigência legal, sem que houvesse qualquer compatibilidade entre suas habilidades e as funções exercidas, tampouco perspectivas de crescimento profissional.
Outro dado relevante mostra que 30% dos participantes se sentem invisíveis dentro do ambiente corporativo, e 38% relataram que as empresas onde trabalham ou trabalharam nunca promoveram ações efetivas de inclusão. A pesquisa também identificou que 80% das pessoas com deficiência e/ou neurodivergência já sentiram prejuízos diretos em suas carreiras devido a essa condição.
O impacto na empregabilidade também é marcante: 60% dos entrevistados acreditam que sua condição reduz as chances de conseguirem boas oportunidades de trabalho. Curiosamente, a percepção sobre o desempenho no trabalho é diferente: 76% disseram que ser PcD ou neurodivergente não atrapalha — ou até melhora — a execução de suas atividades.
A realidade do capacitismo nos ambientes corporativos também foi amplamente exposta no levantamento. Nove entre dez participantes relataram já ter enfrentado ao menos uma situação discriminatória relacionada à deficiência. Entre os episódios mais frequentes estão: ouvir comentários capacitistas (75%), sofrer preconceito por parte de superiores (64%) e colegas de equipe (62%), ser desqualificado (51%) ou não ser promovido (49%).
Ainda segundo os dados, 84% dos casos de capacitismo ocorreram enquanto os trabalhadores estavam empregados formalmente. Apesar disso, apenas 35% das vítimas relataram os episódios à empresa. Dentre os que não denunciaram, os principais motivos foram o medo de retaliações ou demissão (38%) e o sentimento de que nada mudaria (29%).
“Quatro em cada dez pessoas que denunciaram não se sentiram acolhidas”
, revela o estudo.
A Lei de Cotas, regulamentada em 1999, já enfrentou várias tentativas de flexibilização desde sua criação. Mesmo com sua importância comprovada por dados e experiências, o desafio continua sendo sua aplicação efetiva e a promoção de ambientes corporativos verdadeiramente inclusivos.
Enquanto isso, os dados da pesquisa reforçam a urgência de práticas que não apenas cumpram a legislação, mas valorizem de forma real as capacidades e trajetórias das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.