Trégua entre EUA e China derruba dólar e movimenta mercados globais

Conversa amistosa entre Donald Trump e Xi Jinping impulsiona queda da moeda americana, mas especialistas alertam para efeito temporário. No Brasil, dólar encerra a semana abaixo de R$ 6.

Por Plox

25/01/2025 07h58 - Atualizado há 13 dias

A semana foi marcada por uma surpreendente valorização de moedas globais frente ao dólar, impulsionada por declarações do presidente norte-americano Donald Trump. Ele afirmou que teve uma conversa "boa e amigável" com o presidente chinês, Xi Jinping, na semana passada. Como resultado, o dólar encerrou a semana com queda acumulada de 2,47% em diversos mercados.

No Brasil, a moeda norte-americana recuou 0,12% ontem, fechando em R$ 5,918, o menor valor desde 27 de novembro de 2024. Movimentos semelhantes foram registrados em outras economias: o dólar caiu 0,74% frente ao euro, 0,61% em relação ao yuan chinês, e perdeu força diante de moedas como o iene (-0,05%), a libra esterlina (-1,02%) e o dólar canadense (-0,27%).

O Índice DXY, que mede a performance do dólar frente a uma cesta de moedas globais, apresentou queda de 0,6% no pregão de ontem, consolidando a tendência de enfraquecimento.

Trump e Xi: otimismo temporário?
Trump, que anteriormente havia prometido impor tarifas a produtos chineses, surpreendeu ao destacar uma possível cooperação com a China. Ele escreveu em sua rede social, Truth Social: "Acabei de falar com o presidente Xi Jinping da China. A ligação foi muito boa para a China e para os EUA. Minha expectativa é que resolveremos muitos problemas juntos, e começando imediatamente. Discutimos o equilíbrio do comércio, Fentanil, TikTok e muitos outros assuntos."

Por outro lado, o governo chinês, por meio da porta-voz Mao Ning, reiterou a importância da cooperação entre os países. Segundo ela, "apesar das diferenças e atritos, os dois países têm enormes interesses comuns e espaço para cooperação."

Impactos no mercado brasileiro
O cenário externo influenciou os mercados no Brasil. Apesar da queda no câmbio, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) mostrou estabilidade ontem, com o Índice Bovespa registrando leve baixa de 0,03%, fechando em 122.449 pontos.

As mineradoras foram destaque, impulsionadas pela recuperação do preço do minério de ferro na China, que acumulou alta de 0,31% na semana. Ações da Vale, CSN e Usiminas lideraram os ganhos no setor.

Os juros futuros também apresentaram variações moderadas. A taxa dos contratos DI para janeiro de 2026 subiu para 15,07%, enquanto os contratos para janeiro de 2027 encerraram em 15,35%. A prévia do IPCA-15 de janeiro, que registrou desaceleração ao avançar apenas 0,11%, também contribuiu para um cenário de maior estabilidade no mercado.

Especialistas alertam para fragilidade do cenário
Embora a queda do dólar tenha sido motivo de alívio para investidores, analistas apontam que o movimento pode ser temporário. Antônio da Luz, economista-chefe da Ecoagro, destacou que a redução do câmbio está ligada à ausência de medidas tarifárias mais severas por parte dos EUA. "O mercado precificou medidas tarifárias duras de Trump na primeira semana, e elas não vieram. Porém, sem medidas fiscais efetivas no Brasil, esse ‘alívio’ deverá ser efêmero", avaliou.

Leandro Barcelos, gerente de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, também ressaltou que a relação entre os EUA e a China segue instável. Ele apontou que o posicionamento de Trump e do recém-escolhido Marco Rubio pode gerar impactos comerciais relevantes. Rubio, crítico do regime chinês, já foi alvo de sanções da China, mas sinalizou abertura para implementar o consenso discutido entre Trump e Xi Jinping.

Potenciais desdobramentos globais e para o Brasil
A escalada de tarifas entre os dois países pode ter consequências significativas, tanto para as economias envolvidas quanto para outros mercados. Barcelos acredita que um eventual fechamento do mercado norte-americano aos produtos chineses pode criar oportunidades para o Brasil redirecionar exportações. Contudo, ele alertou para riscos, como possíveis taxações a membros do Mercosul.

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