Conclave reabre debate: próximo papa poderá ser africano
Após a morte de Francisco, nomes africanos como Peter Turkson e Robert Sarah ganham destaque para o papado
Por Plox
25/04/2025 09h01 - Atualizado há 1 dia
Desde que declarou em 2010 que não se sentia preparado para assumir o papado, o cardeal ganês Peter Turkson observou também que a Igreja Católica talvez ainda não estivesse pronta para um papa negro. Mais de uma década depois, com a morte de Francisco na última segunda-feira (21/04), o nome de Turkson surge entre os favoritos para o próximo conclave.

Naquela época, Turkson afirmou:
\"Eu não gostaria de ser o primeiro papa negro. Acho que seria difícil\"
. No entanto, o cenário atual apresenta mudanças significativas, com analistas destacando a importância de uma liderança que represente a globalidade da Igreja.
Embora Turkson seja uma das apostas, ele não é o único africano cotado. A história já registra um papa africano, Vítor I, que comandou a Igreja entre os anos 189 e 199. Agora, o crescimento do número de católicos africanos reacende o debate sobre a possibilidade de o próximo pontífice vir desse continente.
O historiador Miles Pattenden destaca que há um movimento crescente para que o papa reflita a Igreja global e não apenas europeia. Atualmente, 12% dos cardeais aptos a votar são africanos, um aumento em relação aos 8% no conclave anterior, ainda que a África represente 20% dos 1,4 bilhão de católicos no mundo.
Além de Turkson, o cardeal guineense Robert Sarah também desponta entre os conservadores. Com posturas mais tradicionais, Sarah já comparou temas como aborto e homossexualidade à ideologia nazista, uma retórica que contrasta com a abordagem mais moderada de Turkson, que em 2023 defendeu na BBC que pessoas LGBTQIA+ não deveriam ser criminalizadas.
Outro nome africano citado é o de Fridolin Ambongo, da República Democrática do Congo. Ele liderou resistências no continente africano contra a bênção a casais do mesmo gênero, tema incentivado por Francisco em sua gestão, ainda que o pontífice argentino tenha mantido várias doutrinas conservadoras.
Para a professora Cristina Traina, da Universidade Fordham, não há garantias de que o próximo papa manterá o espírito reformista de Francisco. E, para um padre congolês que preferiu não se identificar, a discriminação velada dentro da Igreja continua sendo uma barreira para a eleição de um papa africano.
A possibilidade de uma liderança africana traria uma nova visão para questões como a escassez de seminaristas e o debate sobre sacerdotes casados, segundo Traina. O cardeal Ambongo, por exemplo, atua na reflexão sobre a integração de convertidos oriundos de casamentos polígamos.
Na Nigéria, o padre Paul Maji expressou o desejo de muitos: ter um papa africano. Ainda assim, para ele, a procedência do novo líder não é tão importante quanto a vontade divina. Essa mesma perspectiva é compartilhada pelo decano da Faculdade de Teologia da Universidade Católica do Congo, Sylvain Badibanga, que ressalta:
\"Não deveríamos pensar que é a nossa vez. É a vez de Deus\"
.
Peter Turkson, cujo nome já foi cogitado em 2013, também demonstrou aceitação: se for da vontade de Deus, ele está pronto para assumir a responsabilidade como o primeiro papa negro.