Geração Z lidera protestos violentos em Ladaque, na Índia, e quatro morrem
Manifestantes incendiaram prédios e viaturas em Leh; confrontos com a polícia deixaram dezenas de feridos e acirraram a crise na região
Por Plox
25/09/2025 16h04 - Atualizado há 17 dias
A região de Ladaque, no norte da Índia, tornou-se o mais recente epicentro de uma onda de protestos liderados pela geração Z. A mobilização, que teve início nesta quarta-feira (24), resultou em quatro mortos e dezenas de feridos, incluindo policiais e manifestantes.

Os confrontos mais intensos aconteceram em Leh, capital de Ladaque, onde jovens atearam fogo a prédios públicos e veículos, incluindo a sede regional do Partido Bharatiya Janata (BJP), legenda do primeiro-ministro Narendra Modi. A repressão policial foi severa e agravou a situação no local.

Durante os últimos anos, moradores da região organizaram protestos pacíficos, como marchas e greves de fome, reivindicando mais autonomia e a restituição da condição de estado para Ladaque, atualmente sob administração direta do governo indiano desde 2019. A principal exigência é a criação de um governo local eleito.
A manifestação desta quarta-feira marcou uma ruptura com o pacifismo, sendo descrita por líderes locais como uma “revolução da juventude”. Jovens gritaram palavras de ordem em frente a edifícios oficiais e à sede do BJP, desencadeando os confrontos.

O movimento ocorre em meio a uma greve de fome iniciada por ativistas locais, que chegou ao 15º dia. Dois deles foram hospitalizados, o que levou à convocação da paralisação. Porém, a interrupção da greve foi interpretada por parte da juventude como o fracasso da via pacífica.
“A população já estava exausta com promessas vazias ao longo de cinco anos. O povo se cansou de esperar”, declarou Jigmat Paljor, um dos líderes das manifestações.
Segundo relatos, dezenas de pessoas ficaram feridas, uma está em estado grave e quatro morreram durante os embates. O chefe da organização responsável pelas greves de fome classificou o episódio como “o dia mais sangrento da história de Ladaque”.
O governo indiano responsabilizou o ativista e educador Sonam Wangchuk por incitar os protestos, acusando-o de promover discursos semelhantes aos da Primavera Árabe e aos protestos da geração Z no Nepal. Wangchuk nega as acusações.
A situação em Ladaque é reflexo de uma série de frustrações locais. Desde que a região perdeu sua semi-autonomia em 2019, a população tem enfrentado dificuldades para acessar empregos públicos. Apesar da alta taxa de alfabetização, o desemprego é elevado.
Com cerca de 300 mil habitantes, Ladaque faz fronteira com China e Paquistão. A cidade de Leh é majoritariamente budista, enquanto o distrito vizinho de Kargil, com maioria muçulmana, desejava permanecer unido à Caxemira.
O caso indiano segue a linha de outros levantes recentes liderados pela geração Z no sul da Ásia. No Nepal, mais de 50 pessoas morreram após uma semana de manifestações motivadas pela desigualdade social e pela ostentação de filhos de políticos.
O estopim foi a proibição das redes sociais, medida vista como tentativa de sufocar um movimento anticorrupção. Em resposta, manifestantes incendiaram propriedades públicas e privadas, inclusive casas de políticos, em um dos episódios mais violentos da história do país. A nova primeira-ministra, Sushila Karki, de 73 anos, assumiu após a crise, tornando-se a primeira mulher a liderar o governo nepalês.