Política

STF confirma prisão de Bolsonaro, mas direita mantém ex-presidente como principal articulador

Após decisão unânime da Primeira Turma do STF no caso da 'trama golpista', aliados do ex-presidente avaliam que ele seguirá controlando palanques, alianças e a escolha de um nome para 2026, em movimento comparado ao de Lula em 2018

25/11/2025 às 11:00 por Redação Plox

Com a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), confirmada por unanimidade pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nessa segunda-feira (24), aliados avaliam que a direita pode repetir a estratégia adotada pelo PT em 2018, quando decisões eleitorais partiram de dentro de um presídio.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi detido em prisão preventiva no último sábado (22)

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi detido em prisão preventiva no último sábado (22)

Foto: Agência Brasil


Naquele ano, o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), detido em Curitiba, orientou os rumos do partido e teve papel central na escolha de Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda, como candidato do PT à Presidência da República. Bolsonaro acabou eleito presidente naquele pleito, em meio a críticas da direita ao protagonismo exercido por Lula de dentro da cadeia.

Agora, com Bolsonaro preso após condenação pela chamada “trama golpista”, dirigentes de partidos de direita defendem que ele seguirá como principal articulador político do seu campo, especialmente na definição de candidaturas majoritárias nos estados e na escolha de um substituto para disputar a Presidência da República em seu lugar nas próximas eleições.

Direita tenta preservar liderança de Bolsonaro

Antes da prisão preventiva na Superintendência da Polícia Federal, aliados trabalhavam com o cenário de que Bolsonaro, em regime de prisão domiciliar, comandaria a formação de chapas e palanques nos estados. A decisão judicial que determinou o encarceramento em unidade da PF, com visitas inicialmente restritas a familiares, médicos e advogados, frustrou parte dessas expectativas.

Ainda assim, interlocutores avaliam que o capital político do ex-presidente permanece preservado e que ele seguirá sendo referência para a montagem do quadro eleitoral do PL e de outras siglas alinhadas à direita nas eleições do ano que vem. Nesse desenho, familiares e advogados assumem papel central como ponte entre Bolsonaro e as cúpulas partidárias.

“Todas as decisões” com aval de Bolsonaro

Em coletiva de imprensa nessa segunda-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, afirmou que as articulações eleitorais da direita continuarão submetidas ao crivo do pai, mesmo com a prisão preventiva.

A gente vai estar mais forte e unido do que nunca, porque todas as decisões que serão tomadas em relação aos palanques nos estados vão ser tomadas ouvindo as lideranças locais e reportando, obviamente, ao nosso líder maior, presidente Bolsonaro

Flávio Bolsonaro

A declaração foi dada após uma reunião de quase quatro horas entre lideranças do PL no Congresso Nacional, convocada em reação imediata à prisão do ex-presidente. Entre os presentes, prevaleceu a avaliação de que Bolsonaro seguirá como figura central na definição das estratégias eleitorais do partido.

Aliados defendem “palavra final” do ex-presidente

Dirigentes do PL reforçam o discurso de lealdade ao ex-presidente e apontam que Bolsonaro continua sendo o principal líder da direita. Na avaliação dessas lideranças, a influência do ex-presidente na escolha de candidaturas majoritárias e alianças regionais seguirá determinante, mesmo com as restrições impostas pela prisão.

Entre apoiadores, a narrativa é de que a base bolsonarista permanece fortemente mobilizada e fiel, e que a família do ex-presidente deverá atuar como canal oficial das orientações políticas vindas da prisão para o partido e seus aliados.

A expectativa é de que decisões sobre quem apoiar para presidente, governador, senador e outros cargos passem, em última instância, pelo aval de Bolsonaro, reproduzindo, em outro campo ideológico, a lógica que marcou a atuação do PT em 2018, quando Lula orientou a estratégia eleitoral de dentro da prisão.

Comparação com o caso Lula em 2018

Na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Camilo Aggio, a prisão de Bolsonaro tende a causar menos desgaste político ao ex-presidente e a seus aliados do que ocorreu com Lula em 2018. Segundo ele, o petista enfrentava, naquele momento, um cenário de maior fadiga eleitoral, após ter sido eleito e reeleito presidente e disputar eleições presidenciais desde 1989.

Para Bolsonaro, Aggio avalia que o quadro é distinto. O cientista político aponta que ainda há parcela expressiva do eleitorado de direita disposta a apoiar um novo projeto liderado pelo ex-presidente. Na leitura do professor, não há, hoje, entre seus apoiadores, um movimento significativo que defenda que Bolsonaro “tire o time de campo”.

Nesse contexto, a articulação política a partir da prisão não é vista como um obstáculo intransponível para a direita, que tenta transformar a situação do ex-presidente em fator de coesão e mobilização de sua base para as eleições de 2026.

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