Economia

Lula oficializa salário mínimo de R$ 1.621 a partir de janeiro de 2026

Decreto publicado no Diário Oficial fixa reajuste de R$ 103 no piso nacional, que passa a seguir nova regra de valorização combinando inflação pelo INPC e ganho real limitado a 2,5%, com impacto bilionário nas contas públicas

25/12/2025 às 06:11 por Redação Plox

O Diário Oficial da União publicou nesta quarta-feira (24) o Decreto nº 12.797, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que oficializa o reajuste do salário mínimo nacional a partir de 1º de janeiro de 2026.

Com a mudança, o valor passa de R$ 1.518 para R$ 1.621, um aumento de R$ 103 em relação ao piso atualmente em vigor. Quem recebe o salário mínimo (ou múltiplos dele) ou benefícios vinculados a esse valor, como o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), já terá o montante reajustado nos pagamentos do início de fevereiro.

Entenda a seguir como funciona o salário mínimo, qual é a regra de reajuste e de que forma essa alteração impacta a economia brasileira.


Dinheiro em espécie

Dinheiro em espécie

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O que é o salário mínimo e qual sua função

O salário mínimo é a menor remuneração que um trabalhador formal pode receber no país, servindo como piso nacional de referência para contratos de trabalho e diversos benefícios sociais.

A Constituição Federal estabelece que trabalhadores urbanos e rurais têm direito a um salário mínimo nacionalmente unificado, capaz de atender a necessidades básicas como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que preservem o poder de compra.

De acordo com o Dieese, o salário mínimo mensal necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 7.067,18 em novembro deste ano, valor equivalente a 4,66 vezes o piso nacional de R$ 1.518.

A própria Constituição determina ainda que o salário mínimo seja reajustado ao menos pela inflação, justamente para garantir a manutenção do chamado poder de compra. Em termos práticos, se a inflação é de 10%, o salário precisa subir pelo menos 10% para que seja possível comprar, em média, os mesmos produtos e serviços.

Reajustes recentes e política de valorização

Nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, o reajuste do salário mínimo seguiu apenas essa regra básica: correção pela inflação, sem aumento real. No atual mandato de Lula, o salário mínimo voltou a ter reajustes acima da inflação, dentro de uma política de valorização retomada pelo governo federal.

Ao mesmo tempo, parte dos economistas defende que, para conter o crescimento da dívida pública e, consequentemente, dos juros cobrados do setor produtivo, os benefícios previdenciários deixem de ter seu piso atrelado ao salário mínimo e voltem a ser corrigidos apenas pela inflação.

Salário mínimo como referência para milhões

De acordo com nota técnica divulgada em janeiro deste ano pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo serve de referência para 59,9 milhões de pessoas no Brasil.

Além dos trabalhadores que recebem um salário mínimo (ou múltiplos dele) por contrato, o piso nacional também é referência para aposentadorias e benefícios como o BPC, que são vinculados ao mesmo valor.

O salário mínimo provoca ainda efeitos indiretos na economia, como a elevação do salário médio dos brasileiros e o aumento do poder de compra dos trabalhadores, com reflexos sobre o consumo e a atividade econômica.

Como o governo chegou ao valor de R$ 1.621

Se seguisse apenas a regra constitucional de correção pela inflação, o governo poderia reajustar o piso dos atuais R$ 1.518 para algo em torno de R$ 1.582.

O cálculo considera a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 12 meses até novembro, que foi de 4,18%.

O governo Lula, porém, havia prometido ainda na campanha retomar a chamada política de valorização do salário mínimo, que prevê aumentos acima da inflação.

Em 2023, o Congresso Nacional aprovou uma medida provisória que incluiu esse mecanismo na legislação. Pela nova regra, o reajuste do salário mínimo passou a levar em conta dois fatores:

• a inflação medida pelo INPC até novembro, como prevê a Constituição;
• o índice de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores.

Nesse modelo, o salário mínimo de 2026 seria corrigido pela inflação de 4,18% e pelo crescimento do PIB de 2024, de 3,4%, o que levaria o valor para R$ 1.636.

Em dezembro do ano passado, no entanto, foi aprovada uma lei que limita o aumento real (acima da inflação) do salário mínimo a 2,5%, em linha com o teto de gastos do novo arcabouço fiscal.

Aplicando essa limitação, o reajuste considera a inflação em 12 meses até novembro (4,18%) mais 2,5% de alta real, o que resulta no novo valor de R$ 1.621 para o salário mínimo em 2026.

Efeitos do reajuste nas contas públicas

Todo aumento do salário mínimo tem reflexos diretos nas contas do governo federal. Isso ocorre porque benefícios previdenciários, abono salarial, seguro-desemprego e outros programas não podem ter valor inferior ao piso nacional.

De acordo com cálculos do governo, a cada R$ 1 de aumento do salário mínimo, a despesa em 2026 cresce aproximadamente R$ 420 milhões. Um reajuste de R$ 103, portanto, implica alta de cerca de R$ 43,2 bilhões nas despesas obrigatórias.

O aumento mais robusto do salário mínimo é hoje um dos principais fatores de expansão das despesas obrigatórias. Com isso, a margem para os chamados gastos discricionários — as despesas “livres”, usadas em políticas públicas e investimentos — tende a ficar mais apertada, o que pode impactar a execução de programas do governo federal.

Compartilhar a notícia

V e j a A g o r a