Pesquisa aponta aumento de megassecas e destaca Amazônia e Sudeste entre regiões mais atingidas

Estudo global identificou mais de 13 mil eventos extremos entre 1980 e 2018, com impacto severo no Brasil; Amazônia enfrentou seca por quase uma década

Por Plox

26/03/2025 09h46 - Atualizado há 6 dias

Megassecas estão se tornando cada vez mais frequentes e severas em várias partes do planeta, conforme aponta um estudo publicado na revista Science. A pesquisa analisou o período de 1980 a 2018 e revelou mais de 13 mil ocorrências desses eventos extremos de estiagem, caracterizados por sua duração prolongada — no mínimo dois anos — e impactos devastadores.


Imagem Foto: Pixabay


Diferentemente das secas sazonais comuns, as megassecas resultam de uma combinação de fatores como a elevação da temperatura global e o aumento da demanda atmosférica por água. De acordo com o autor do estudo, Simone Fatichi, da Universidade Nacional de Singapura, essas condições acentuam a escassez hídrica, levando ao ressecamento de rios, escassez no abastecimento urbano e maior vulnerabilidade dos ecossistemas a incêndios florestais.



No ranking global das dez megassecas mais severas, o Brasil aparece duas vezes. Em sétimo lugar, está a seca que atingiu a Amazônia Sul-Ocidental entre 2010 e 2018. A região, que abrange áreas dos estados de Amazonas, Acre, Rondônia e Mato Grosso, além de partes da Bolívia e do Peru, sofreu uma drástica redução do volume dos rios Madeira, Negro e Solimões. O impacto foi sentido diretamente pelas comunidades ribeirinhas, que ficaram isoladas, e pela vegetação, que se tornou mais suscetível a queimadas.


Outro caso marcante ocorreu entre 2014 e 2017, no Sudeste do Brasil, classificado como o nono evento mais severo da lista. A estiagem afetou os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de milhões de pessoas na Grande São Paulo, chegou a operar com o volume morto em 2015. Além disso, reservatórios em Minas e no Rio registraram níveis críticos, prejudicando tanto o fornecimento de água quanto a geração de energia nas hidrelétricas da região.



A pesquisa destaca que os efeitos das megassecas são ainda mais graves em áreas quentes, enquanto regiões frias sofrem com a evaporação acentuada da água disponível. A meteorologista Andrea Ramos, do Climatempo, avalia que o mundo já vive um “novo normal” climático, com eventos extremos como chuvas intensas, ondas de calor e incêndios florestais se tornando mais recorrentes.


Embora o Brasil tenha sido duramente afetado, os eventos mais longos ocorreram em outros continentes. O mais grave foi registrado na Bacia do Congo, na África, onde a seca se estendeu por quase uma década, entre 2010 e 2018. A Mongólia também enfrentou um período crítico de estiagem entre 2000 e 2011, com perda de cerca de 30% da cobertura vegetal do país.



O alerta, que também foi reforçado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), indica que esse cenário de intensificação das megassecas deve persistir nas próximas décadas, com consequências significativas para o equilíbrio ambiental e a qualidade de vida das populações afetadas.


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