Cão com função terapêutica que previne 'meltdown' de criança autista é impedido de embarcar

Mesmo com liminar judicial, TAP barra embarque de Tedy, cão de assistência de menina de 12 anos; separação causa crise emocional

Por Plox

26/05/2025 21h00 - Atualizado há 1 dia

Desde o início de abril, a família de Alice, uma menina de 12 anos diagnosticada com autismo, tem enfrentado dificuldades para embarcar seu cão de serviço, Tedy, em voos com destino a Portugal. A primeira tentativa ocorreu em 8 de abril, no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, quando a criança ainda estava acompanhada do animal. Contudo, a companhia aérea TAP recusou a presença do cão na cabine.


Imagem Foto: Arquivo pessoal


Tedy foi treinado por dois anos para executar tarefas específicas relacionadas ao suporte emocional e sensorial de Alice, como reconhecer sinais de desregulação emocional e prevenir crises conhecidas como 'meltdowns'. Segundo Renato Sá, pai da menina, a ausência do cão por mais de 45 dias já desencadeou episódios críticos: \"Ela perde o controle sobre as próprias ações, podendo até se machucar ou machucar os outros\", relatou durante participação no programa Encontro com Patrícia Poeta.



De acordo com Hayanne Porto, irmã da criança, o animal foi treinado para permanecer até 24 horas em jejum, justamente para evitar necessidades fisiológicas durante as viagens. Mesmo com esse preparo, a TAP se recusou a permitir o embarque do cão na cabine, sugerindo que ele fosse transportado no bagageiro — o que a família considera inviável devido ao estresse extremo que isso causaria ao animal.


No último sábado (24), duas novas tentativas de embarque fracassaram, mesmo com uma liminar judicial autorizando a viagem de Tedy na cabine. Um voo que sairia à tarde precisou ser cancelado após desentendimento com a companhia aérea, e um gerente da TAP chegou a ser autuado por desobediência pela Polícia Federal. Mais tarde, um voo programado para as 20h30 decolou na madrugada de domingo sem Hayanne e sem o cão.



A TAP se pronunciou informando que a prioridade é a segurança dos passageiros e argumentou que a pessoa que viajaria com o animal naquele voo não era quem necessitava do suporte do cão, contrariando a alegação da família de que Hayanne estava designada para acompanhar Tedy até Portugal.


Além do desgaste emocional causado pela separação, o Certificado Veterinário Internacional (CVI) de Tedy expirou no domingo (25), tornando necessária a emissão de um novo documento para uma futura tentativa de embarque. A situação afeta não apenas Alice, que utiliza um aplicativo para se comunicar e tem dificuldade para entender o que está ocorrendo, mas também o próprio cão, conforme alertam especialistas.


O psiquiatra Fábio Pinato Sato, especializado em Transtorno do Espectro Autista, reforça que a ausência de Tedy pode trazer consequências emocionais severas tanto para a criança quanto para o animal: \"Podem surgir sintomas desafiantes, como irritabilidade, inquietação e mau humor\".



Enquanto aguardam uma solução, os familiares tentam explicar para Alice o que está acontecendo, mas encontram dificuldades devido às limitações de comunicação da criança. “Não dá para explicar liminar ou motivo técnico. Pra ela, o cachorro não está com ela, e isso basta para causar angústia”, lamentou o pai.


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