Taxação repentina da Venezuela a produtos brasileiros causa impasse diplomático

A relação comercial entre Brasil e Venezuela vive um novo momento de tensão após a imposição repentina de tarifas de importação sobre produtos brasileiros que chegam ao território venezuelano. Sem qualquer tipo de notificação prévia, o governo de Nicolás Maduro passou a aplicar taxas que variam de 15% a 77% sobre itens vindos do Brasil.

Foto: Presidência

A medida surpreendeu as autoridades brasileiras e afetou inclusive exportações que, conforme acordos vigentes, deveriam estar isentas — desde que apresentassem o certificado de origem. O episódio mais uma vez acende um alerta sobre a estabilidade nas relações bilaterais entre os países vizinhos.

Embora o governo federal ainda não tenha confirmado se se trata de um erro administrativo ou de uma decisão deliberada por parte da Venezuela, o Itamaraty já iniciou tratativas para apurar os motivos. A Federação das Indústrias do Estado de Roraima (Fier) foi uma das primeiras a identificar o problema e repassá-lo aos órgãos federais.

Em resposta, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) declarou que recebeu relatos de exportadores com dificuldades para ingressar com seus produtos no país vizinho. Segundo nota oficial, o caso está sendo acompanhado em conjunto com o Ministério das Relações Exteriores, que acionou imediatamente a Embaixada do Brasil em Caracas. As autoridades brasileiras afirmam já estarem em contato com representantes venezuelanos para obter esclarecimentos mais detalhados.

\"O MDIC está em diálogo com representantes do setor produtivo para reunir informações mais detalhadas sobre os casos reportados\", informou o ministério em nota.

Roraima, por ser um estado de fronteira, está entre os mais atingidos pela nova política de taxação, que impacta diretamente as relações de comércio com a Venezuela. Em 2024, as exportações brasileiras para o país vizinho somaram cerca de US$ 1,2 bilhão, enquanto as importações alcançaram apenas US$ 422 mil. Desde 2014, os dois países mantêm o Acordo de Complementação Econômica nº 69, que prevê isenção tarifária em diversas categorias de produtos.

Embora não haja uma ligação formal entre a cobrança e questões políticas recentes, vale lembrar que os governos de Lula e Maduro tiveram desentendimentos no ano anterior. Em meio à discussão sobre as eleições venezuelanas, o presidente brasileiro defendeu o respeito à democracia, o que levou Maduro a reagir de forma irônica, recomendando indiretamente que Lula tomasse “um chá de camomila”.

O episódio atual, entretanto, é tratado como prioritário pelo governo brasileiro, que aguarda uma explicação oficial da Venezuela e estuda medidas diplomáticas para garantir que os termos do acordo vigente sejam respeitados.