Ultramaratonista mineira enfrenta sozinha travessia de 800 km nos Pirineus e faz história
Fernanda Maciel, de BH, é a primeira mulher a registrar tempo oficial na desafiadora rota GR11, completando o percurso em 12 dias e 12 horas
Por Plox
26/07/2025 09h17 - Atualizado há 7 dias
A ultramaratonista Fernanda Maciel, natural de Belo Horizonte, conquistou um feito histórico ao se tornar a primeira mulher a registrar oficialmente o tempo de conclusão da travessia GR11, também conhecida como Transpirenaica, uma das mais desafiadoras rotas de corrida do mundo, com cerca de 786 km.

A jornada teve início no Cabo Higuer, no País Basco, e se encerrou no Cap de Creus, na Catalunha. Durante 12 dias, 12 horas e 9 minutos, Fernanda enfrentou 35 mil metros de elevação acumulada, solos técnicos e mudanças climáticas intensas. Além do desafio físico, ela percorreu grande parte do trajeto sozinha, lidando com longas horas de silêncio e isolamento nas montanhas.
Vivendo nos Pirineus desde 2009, a atleta da Red Bull se preparou durante anos para essa conquista. Segundo ela, o sonho de cruzar completamente os Pirineus começou há cerca de 15 anos. A escolha de morar em pequenas vilas da região foi estratégica para adaptar-se ao ambiente e estilo de vida da corrida de montanha.
Apesar de ter a possibilidade de fazer o trajeto com suporte, Fernanda optou por realizar o desafio sem acompanhamento, aumentando o grau de dificuldade. “Nada podia dar errado”, destacou. A preparação envolveu treino intenso de quadríceps, subidas rápidas com mochila, e visualização mental da chegada, técnica essencial para manter o foco mesmo diante do cansaço extremo.
Durante a travessia, ela utilizou refúgios ao longo do caminho para alimentação e repouso. Em média, encontrava alguém a cada seis horas de corrida. No entanto, as noites foram marcadas por desconforto e noites mal dormidas, dividindo espaço com outros aventureiros. Nos primeiros cinco dias, não conseguiu dormir devido à adrenalina, retenção de líquido, dores e diarreia.
Cada um dos doze dias foi desafiador. Fernanda enfrentou cãibras no pescoço, mãos e até no diafragma, desidratação severa e episódios de diarreia intensa. No primeiro dia, mesmo doente, percorreu 90 km. No segundo dia, parou em uma vila sem água. No terceiro, se perdeu. E no sétimo dia, chegou a cogitar interromper a jornada por exaustão muscular. Porém, no dia seguinte, surpreendeu-se com sua própria recuperação e avançou novamente.
O sentimento de maior orgulho, segundo ela, não foi apenas concluir, mas ter tido coragem de começar o projeto e seguir até o fim. \"Estou tentando assimilar tudo ainda, mas fico feliz por ter sonhado com isso, me preparado e realizado esse desafio sozinha\", afirmou.
A mineira finaliza com uma reflexão: "Sempre existe algo que podemos sonhar e criar, algo muito pessoal que só nós vamos dar valor. Parar para refletir sobre o que queremos viver nesta vida é essencial. A vida é curta, e precisamos desses momentos para nos sentir vivos.”
Com uma trajetória marcada por superações extremas, Fernanda Maciel mostra mais uma vez que a combinação de coragem, preparo e persistência é capaz de transformar sonhos em conquistas históricas.