Influenciadores manipulam rifas online em esquema milionário de fraudes
Polícia desmantela esquema de sorteios fraudulentos conduzidos por influenciadores no Brasil, revelando como falsos ganhadores e sites inseguros facilitam o golpe
Por Plox
26/08/2024 09h10 - Atualizado há 11 meses
A polícia revelou um esquema de fraudes em sorteios online, onde influenciadores digitais investem para fazer acreditar que a rifa divulgada é legal e que “está tudo certo”.

Eles chamam a atenção dos seguidores com vídeos chamativos, promovendo sorteios de casas, carros e grandes quantias de dinheiro que, na realidade, são fictícios. A recente investigação expôs a fragilidade dos sites de sorteios, permitindo manipulações como a escolha de ganhadores falsos.
Um dos segredos do sucesso que garante aos criminosos uma mudança rápida do padrão de vida é vender os números de rifas por valores bem pequenos, assim os seguidores não fazem questão de questionar ou denunciar os criminosos. A atividade ilícita se espalha por todas as regiões do Brasil. A ostentação de casas e carros de luxo são umas das formas mais usadas para atrair mais seguidores.
O assunto foi abordado em reportagem do programa Fantástico, da rede Globo de Televisão.

O casal de influenciadores Gladison Pieri e Pâmela Pavão, de Canoas (RS), foi preso em um apartamento de luxo em Balneário Camboriú (SC). No local, a polícia encontrou joias, artigos de grife e uma mala transparente cheia de dinheiro, reforçando as suspeitas sobre a origem ilícita de seus bens. Em outra operação na grande Porto Alegre, 49 carros de luxo foram apreendidos em endereços ligados ao casal. As autoridades suspeitam que boa parte desse patrimônio foi acumulado através de sorteios ilegais de rifas, promovidos em sites por valores baixos.
Gladison e Pâmela são investigados por crimes contra a economia popular, jogos de azar, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Os valores obtidos com a venda de números de sorteio chegaram a aproximadamente R$ 10 a R$ 11 milhões.
Como funcionava o golpe?
De acordo com a polícia, muitos dos ganhadores das rifas tinham vínculos pessoais com os investigados, recebendo valores adicionais além do prêmio sorteado. O organizador dos sorteios, com a ajuda de sites vulneráveis, conseguia até decidir se haveria um vencedor ou não. Durante a operação que resultou na prisão de Gladison, ele foi detido por porte ilegal de arma, mas pagou fiança de R$ 60 mil e foi liberado. Incrivelmente, no mesmo dia, o casal voltou a anunciar sorteios, incluindo um carro de luxo que havia sido apreendido.
"Anunciar um veículo apreendido e continuar com a atividade ilícita é uma afronta ao sistema de justiça criminal", afirmou o delegado Cristiano de Castro Reschke, de Canoas (RS). Na última sexta-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva de Gladison e Pâmela, mas a medida foi revogada, impondo restrições aos investigados. A polícia já confirmou crimes de lavagem de dinheiro e contravenção penal, continuando a investigar se os prêmios em dinheiro, casas e automóveis realmente eram entregues.
Fraudes em sorteios online e falsos ganhadores
Os sites usados para hospedar os sorteios das rifas facilitavam as fraudes. Em uma simulação rápida, um promotor conseguiu criar uma rifa fictícia de um carro, onde ele mesmo seria o ganhador. "A segurança desses sites é muito frágil. Ele propicia uma série de fraudes em relação às rifas", explicou o promotor.
Em nota, a defesa de Gladison e Pâmela alegou "desconhecimento técnico por parte das autoridades quanto aos sorteios" e afirmou que os fatos serão esclarecidos durante a investigação.
Golpe similar em Goiás movimenta milhões
Um esquema semelhante foi desarticulado em Goiás, onde sorteios online movimentaram R$ 27 milhões em dois anos. As rifas eram promovidas ao vivo na internet, com divulgação de celebridades como Sheila Mello e Henri Castelli. A polícia esclareceu que os atores e apresentadores dos sorteios não estavam envolvidos no golpe, mas foram enganados pelos criminosos.
Os sorteios eram manipulados, com falsos ganhadores contratados para simular vitórias. Rosilene, uma das falsas ganhadoras, revelou que foi contatada um dia antes do sorteio e recebeu entre R$ 800 e R$ 1 mil para fingir que tinha ganhado. Em Goiás, nove integrantes da organização criminosa foram presos, incluindo Alessandro Oliveira Leal, Paulo Rogério Vieira e Marcilio Pereira dos Santos.
A defesa dos envolvidos declarou acreditar na inocência de seus clientes, argumentando que as provas apresentadas são insuficientes para condenação.
A operação policial destacou a vulnerabilidade dos sistemas de sorteios online e a extensão da fraude envolvendo influenciadores digitais. As investigações continuam, com foco na recuperação dos valores e na responsabilização dos envolvidos.