CPMI do INSS convoca ex-presidentes e operador de fraudes para depor
Comissão aprova plano de trabalho e convocações de nomes ligados a esquema bilionário contra aposentados
Por Plox
26/08/2025 18h04 - Atualizado há cerca de 5 horas
A primeira sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS foi marcada por decisões importantes nesta terça-feira, 26 de agosto, em Brasília. Com foco em desvendar um complexo esquema de fraudes que afetou aposentados e pensionistas, o colegiado aprovou o plano de trabalho e a convocação de personagens centrais nas investigações, incluindo dez ex-presidentes do Instituto Nacional do Seguro Social e o principal operador do esquema, Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como 'Careca do INSS'.

Entre os nomes convocados estão os ex-presidentes que passaram pelo comando do INSS durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Foram chamados: Alessandro Antonio Stefanutto, Glauco André Fonseca Wamburg, Guilherme Gastaldello Pinheiro Serrano, Leonardo José Rolim Guimarães, Renato Rodrigues Vieira, Edison Antônio Costa Britto Garcia, Francisco Paulo Soares Lopes, Leonardo de Melo Gadelha, Elisete Berchiol da Silva Iwai e Lindolfo Neto de Oliveira Sales.
Além deles, três ex-ministros da Previdência Social também foram convidados a prestar depoimento — nessa condição, não são obrigados a comparecer: Eduardo Gabas (governo Dilma), José Carlos Oliveira (governo Bolsonaro, quando a pasta foi unificada com a do Trabalho) e Carlos Roberto Lupi (atualmente no governo Lula). Outros nomes que entram no radar da comissão são o advogado Eli Cohen, responsável por denunciar a fraude, e o empresário Maurício Camisotti, apontado como sócio oculto de entidade beneficiada pelo esquema.
Durante a reunião, o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), teve seu plano de trabalho aprovado. A investigação terá como linha central os casos ocorridos desde 2015, embora ele acredite que práticas semelhantes remontem a 1994. O foco será na identificação dos responsáveis por cobranças indevidas feitas diretamente nos pagamentos de aposentadorias, sob a alegação de associação a entidades.
“Estarei para cumprir o rito da investigação. No meu relatório não haverá protegidos nem perseguidos”, afirmou Gaspar
, que ainda fez questão de mencionar que recusou convite para visitar Jair Bolsonaro, atualmente em prisão domiciliar, para reforçar sua posição de imparcialidade.
Outras medidas previstas incluem visitas a unidades do INSS, debates com especialistas, cruzamento de dados com o Judiciário, Ministérios Públicos e Defensorias, além da articulação com órgãos de investigação. O colegiado é composto por 15 senadores e 15 deputados e tem até 28 de março de 2026 para concluir os trabalhos. As próximas reuniões ocorrerão às segundas e quintas-feiras.
A condução da CPMI também envolveu movimentações políticas significativas. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) foi eleito presidente da comissão após uma articulação bem-sucedida da oposição, que também apoiou o deputado Duarte Júnior (PSB-MA) para a vice-presidência. A decisão foi tomada em consenso entre governo e oposição, após a desistência do deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
Duarte Júnior afirmou que o foco principal deve ser nos aposentados, independentemente de posições políticas.
“Estamos aqui para investigar, doa a quem doer. Se cometeu crime, cabe a nós garantir a punição”, declarou o vice-presidente da CPMI
.
Durante a sessão, o senador Viana também fez declarações polêmicas ao ameaçar suspender a credencial de jornalistas que publicarem informações sigilosas da comissão, mesmo que os vazamentos tenham origem nos próprios parlamentares ou assessores. “Toda e qualquer informação particular dos parlamentares está preservada por sigilo de lei”, alertou.
A criação da CPMI foi motivada por descobertas feitas em abril por meio de investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União. Os órgãos identificaram um esquema de cobrança de mensalidades indevidas de beneficiários do INSS, com prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Como resposta, o governo federal editou, em julho, uma medida provisória que liberou R$ 3,3 bilhões para ressarcir os lesados.
A expectativa é de que os trabalhos da CPMI possam apontar caminhos para a responsabilização dos envolvidos e para a criação de mecanismos legais que impeçam novas fraudes contra os beneficiários da Previdência Social.