China amplia compras de soja da Argentina e se aproxima dos EUA

A movimentação da China no mercado global de soja causou uma reviravolta nas relações comerciais entre os grandes produtores mundiais. O governo de Xi Jinping autorizou recentemente a compra de 20 navios carregados com soja da Argentina, todos isentos de tarifas. Essa iniciativa reforça a aproximação com o presidente argentino Javier Milei, que tem promovido uma política de liberalização nas exportações agrícolas.

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Com essa estratégia, os chineses buscam garantir o abastecimento de farelo de soja, essencial para a produção de ração animal, especialmente diante da recuperação da indústria suinícola do país, bastante afetada pela Peste Suína Africana desde 2018. A alta demanda por proteína animal — suínos, aves e ovos — tem feito a China ampliar seus estoques de grãos, o que movimenta o mercado global.

Ao mesmo tempo, Pequim ensaia uma reaproximação com os Estados Unidos. Donald Trump, que tem recebido pressão interna de parlamentares de estados produtores como Arkansas, Pensilvânia e Dakota do Norte, se prepara para uma possível visita oficial à China. O objetivo seria destravar as negociações sobre tarifas e aliviar a crise no setor agrícola americano.

Segundo o deputado republicano Glenn Thompson, os agricultores dos EUA vivem o momento mais crítico das últimas décadas. As perdas bilionárias são atribuídas às barreiras comerciais impostas à China e à desvalorização internacional do grão. O farelo de soja, essencial na composição da ração, tem tido demanda, mas os estoques encalhados nos EUA preocupam produtores.

"A soja é o principal produto agrícola dos Estados Unidos, e a situação exige uma intervenção do governo", afirmou Thompson.

Esse cenário representa um risco direto para o Brasil. Mesmo sendo o maior exportador de soja do mundo, o país pode ver sua posição ameaçada caso os chineses concretizem novos acordos com os EUA. Analistas do setor apontam que, diante de produtos com qualidade semelhante, o fator preço tende a definir o rumo das negociações.

A frase popular “amigos, amigos, negócios à parte” nunca fez tanto sentido. Ainda que o Brasil tenha mantido relações comerciais contínuas com a China nos últimos anos, Pequim tem demonstrado que, na balança global, os interesses econômicos se sobrepõem às afinidades políticas.

A Argentina, por sua vez, aproveitou o momento de excesso de oferta no Brasil e nos EUA para negociar com os chineses. Com Milei retirando tarifas sobre carnes e soja, o país sul-americano se tornou um parceiro comercial atrativo. A primeira leva de 10 navios já foi adquirida anteriormente, e agora a nova negociação dobra esse número.

Enquanto isso, os governos americano e chinês também avançam em outras frentes. Um possível acordo envolvendo a operação do TikTok nos Estados Unidos estaria em fase final de ajustes, servindo como mais uma peça no tabuleiro da diplomacia econômica entre as duas potências.

A situação acende um alerta no agronegócio brasileiro. Mesmo com produção elevada, a manutenção de mercados estratégicos dependerá da capacidade do país de competir em termos de preços e logística. A nova onda de acordos comerciais mostra que, no comércio internacional, não há espaço para sentimentalismo: quem oferece melhor condição, fecha o negócio.