Dólar dispara após forte criação de empregos no Brasil e preocupa mercado

O dólar teve uma reviravolta no mercado financeiro nesta quarta-feira (26), encerrando o dia com uma valorização expressiva de 0,76%, cotado a R$ 5,796. A moeda norte-americana chegou a operar em queda no início do pregão, atingindo a mínima de R$ 5,734, mas reverteu o movimento após a divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que registrou a criação de 137,3 mil empregos formais em janeiro. No pico da sessão, a cotação chegou a R$ 5,805.

Mercado reage com cautela à alta no emprego

O resultado do Caged surpreendeu analistas do mercado financeiro, que projetavam um saldo de apenas 48 mil novas vagas, segundo levantamento da agência Reuters. Apesar de ser um indicativo positivo para a economia, a geração de empregos acima do esperado gerou preocupações sobre um possível impacto na inflação e na política de juros do Banco Central.

A Bolsa de Valores também refletiu esse cenário, fechando em queda de 0,96%, aos 124.768 pontos. O movimento negativo foi impulsionado pela incerteza sobre a trajetória da inflação e pelo impacto de balanços corporativos divulgados no mesmo dia.

Os Depósitos Interfinanceiros (DIs) encerraram a sessão com forte alta, com alguns vencimentos avançando 30 pontos-base. A taxa do DI para janeiro de 2026 chegou a 14,74%, enquanto a de janeiro de 2028 subiu para 14,645%.

Salário e consumo podem pressionar preços

O saldo de empregos em janeiro de 2025, resultado de 2,271 milhões de admissões e 2,134 milhões de desligamentos, ficou abaixo do registrado no mesmo mês de 2024, quando foram abertas 180,3 mil vagas. No entanto, a força da geração de empregos levanta preocupações sobre o aumento do consumo e o consequente impacto na inflação.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, explicou que um mercado de trabalho aquecido pode gerar pressão inflacionária. "Embora isso seja um fato positivo para a nossa economia, gerou preocupação dos investidores, que interpretaram os números como um possível sinal de pressão inflacionária no futuro", afirmou.

Se a inflação continuar subindo, o Banco Central pode ser obrigado a manter a taxa Selic em níveis elevados por mais tempo. Atualmente em 13,25%, a taxa básica de juros será revisada na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para maio.

Inflação e política fiscal no radar dos investidores

O último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (24), indicou que analistas elevaram as projeções de inflação para 2025 e 2026 pela 19ª semana consecutiva. A estimativa para este ano passou de 5,60% para 5,65%, enquanto a previsão para 2026 subiu de 4,35% para 4,40%.

Além disso, o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial, registrou alta de 1,23% em fevereiro, o maior valor para o mês desde 2016. Nos últimos 12 meses, o índice acumula alta de 4,96%, superando as expectativas do mercado.

Outro fator que pode influenciar a inflação é a liberação de R$ 12 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário, além do início dos pagamentos do programa Pé-de-Meia, do Ministério da Educação, que prevê incentivos financeiros para alunos do ensino médio.

Cenário político adiciona volatilidade ao câmbio

O ambiente político também pesa sobre o comportamento do mercado. A recente queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou a apreensão dos investidores sobre possíveis medidas fiscais mais flexíveis para recuperar apoio popular.

Na terça-feira (25), Lula demitiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, substituindo-a por Alexandre Padilha, que deixou a Secretaria de Relações Institucionais. A movimentação reforça a tentativa do governo de recompor alianças políticas em Brasília.

No cenário externo, os investidores acompanharam os desdobramentos das declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre novas tarifas comerciais. Trump indicou que as tarifas sobre México e Canadá entrarão em vigor em 2 de abril, o que inicialmente reduziu a força do dólar globalmente. No entanto, a agenda econômica brasileira acabou puxando a moeda norte-americana para cima.

Enquanto isso, o mercado monitora as negociações entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em busca de um acordo para encerrar a guerra no leste europeu.