Argentina negocia novo empréstimo de US$ 20 bilhões com o FMI
Governo Milei busca reforçar reservas do Banco Central e controlar inflação; Caputo também aciona Banco Mundial, BID e CAF
Por Plox
27/03/2025 13h35 - Atualizado há 4 dias
O governo argentino, liderado por Javier Milei, está em fase avançada de negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para obter um novo empréstimo de US$ 20 bilhões. O objetivo, segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, é reforçar as reservas do Banco Central (BC) e garantir maior estabilidade ao peso argentino, principal instrumento do governo para controlar a inflação.

Durante um evento do setor de seguros latino-americanos, realizado nesta quinta-feira (27), Caputo afirmou que o valor negociado com a equipe técnica do FMI é significativamente superior ao que vinha sendo especulado. No entanto, a aprovação ainda depende da decisão da diretoria-executiva do Fundo.
O ministro revelou também que negocia paralelamente empréstimos com o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), todos de “livre disponibilidade”. A intenção declarada é recapitalizar os ativos do BC argentino, trocando títulos do Tesouro por dólares, sem aumentar o valor total da dívida pública.
Caputo argumenta que o plano permitirá ao governo argentino deixar de dever ao próprio Banco Central, passando essa responsabilidade ao FMI. Dessa forma, as reservas do BC seriam compostas por moeda estrangeira e não mais por papéis do Tesouro, algo que, segundo ele, traria mais respaldo à moeda local.
O ministro projeta elevar as reservas de US$ 26 bilhões para US$ 50 bilhões. Para fins de comparação, o Banco Central do Brasil encerrou o ano de 2024 com US$ 329,7 bilhões em reservas.
No entanto, a proposta não é unânime. O diretor do Observatório da Dívida Pública Argentina, o historiador Alejandro Olmos Gaona, criticou a estratégia. Segundo ele, trata-se de uma tentativa de manter artificialmente baixo o valor do dólar por meio da venda de moeda estrangeira no mercado.
“Em apenas um mês, US$ 1,4 bilhão foi usado para acalmar o mercado de câmbio, e mesmo assim a cotação do dólar continua subindo”, apontou Olmos. Ele destacou que a dívida com o FMI traz exigências rígidas, ao contrário das obrigações com o BC, que podem ser refinanciadas sem pressões externas.
Atualmente, a dívida pública da Argentina gira em torno de US$ 471 bilhões, com pagamentos anuais de juros na casa dos US$ 22 bilhões. Para Olmos, seguir com o endividamento não é sustentável, e ele defende um plano estruturado de desenvolvimento econômico de longo prazo.
Além do FMI, a imprensa argentina aponta que o governo pode ter que aceitar o fim dos controles cambiários como condição para o empréstimo, incluindo a liberação da compra mensal de dólares por cidadãos, hoje limitada a US$ 200. Isso tem causado uma corrida ao dólar no país.
Apesar da recessão, a inflação anual caiu de 287% em março de 2024 para 66% em fevereiro de 2025, de acordo com dados oficiais. Ainda assim, a pressão sobre o câmbio e a redução das reservas tornam urgente, segundo o governo Milei, a obtenção de recursos externos.
Por fim, há uma expectativa de que a exploração das reservas de petróleo e gás em Vaca Muerta ajude a gerar dólares no futuro. No entanto, Olmos alerta para a ausência de um planejamento estratégico que vá além de políticas conjunturais.