Fux quebra unanimidade e diverge de Moraes em casos do 8 de janeiro e trama golpista
Ministro do STF aponta desconforto com penas, foro e delação de Mauro Cid, marcando distância de decisões de Alexandre de Moraes
Por Plox
27/03/2025 09h16 - Atualizado há 4 dias
Pela primeira vez, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), manifestou discordância em relação aos posicionamentos do ministro Alexandre de Moraes nos processos que envolvem os ataques de 8 de janeiro de 2023 e a tentativa de golpe investigada em 2022.

A divergência se tornou evidente durante o julgamento encerrado nesta quarta-feira (26), no qual foram aceitas as denúncias contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete envolvidos na suposta articulação golpista. Essa atitude de Fux rompeu a unanimidade até então presente na Primeira Turma do STF em torno das decisões de Moraes nesses casos emblemáticos relacionados ao bolsonarismo.

No julgamento, Fux demonstrou incômodo com diversos aspectos do processo, entre eles a definição dos crimes pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o fato de o caso ser julgado pela Primeira Turma em vez do plenário do Supremo, e a severidade das penas em caso de condenação. Também destacou sua preocupação com a validade da delação do tenente-coronel Mauro Cid, considerada peça central na acusação da PGR.
A discordância do ministro começou ainda na segunda-feira (24), quando ele suspendeu o julgamento de Débora Rodrigues dos Santos, acusada de pichar a estátua "A Justiça" com a frase "perdeu, mané" durante os atos de 8 de janeiro.
A decisão foi interpretada inicialmente como tentativa de reduzir a tensão sobre o tribunal, que vem enfrentando críticas da opinião pública e da comunidade jurídica, especialmente de criminalistas.
No entanto, ao longo da semana, Fux passou a vocalizar reflexões mais profundas sobre a condução dos processos. Durante a sessão desta quarta, relembrou o impacto dos ataques:
"Julgamos sob violenta emoção após a verificação da tragédia do 8 de janeiro. Eu fui ao meu ex-gabinete [...] vi mesa queimada, papéis queimados. Mas acho que os juízes devem sempre refletir sobre erros e acertos".
Mesmo tendo informado Moraes previamente sobre seus questionamentos e o pedido de vista no caso de Débora, Fux manteve firme sua posição. Foi o único a divergir do relator em parte das preliminares apresentadas pelas defesas, como a validade da colaboração premiada de Mauro Cid, a alegação de parcialidade do relator e a remessa do caso ao plenário.
Sobre o foro, manteve entendimento mais restritivo, já manifestado anteriormente. Em relação à delação, embora os ministros tenham concordado que sua validade será discutida apenas durante a ação penal, Fux destacou desconforto:
"Há uma regra de que quem participa do processo tem que fazer de boa-fé. E delação premiada é algo muito sério. Nove delações representam nenhuma delação. Tanto houve omissão que houve nove delações".
A postura de Fux, mais do que um rompimento definitivo com Moraes, indica uma tentativa de provocar reflexões sobre detalhes jurídicos relevantes nesses processos de grande impacto nacional.
O episódio marca uma mudança no clima da Primeira Turma e sinaliza que futuras decisões sobre os desdobramentos dos atos golpistas podem encontrar mais resistência interna no STF.