Parada há quase quatro meses, biofábrica contra dengue falha em testes de operação
Instalação construída pela Vale em BH enfrenta problemas estruturais e de climatização; projeto é parte do acordo de reparação de Brumadinho
Por Plox
27/03/2025 08h38 - Atualizado há 4 dias
Apesar de inaugurada com grande expectativa em abril de 2024, no auge da epidemia de dengue em Minas Gerais, a Biofábrica Método Wolbachia, localizada no bairro Gameleira, em Belo Horizonte, ainda não entrou em operação.

Projetada para ser uma das principais estratégias do Plano de Contingência Nacional contra dengue, zika e chikungunya, a instalação permanece parada há quase quatro meses. Testes de conformidade realizados pela Fiocruz, em parceria com o World Mosquito Program (WMP), reprovaram a estrutura por falhas nos parâmetros de temperatura, umidade e até na construção física. O Termo de Conclusão da Obra, inclusive, ainda não foi assinado.
Financiada pela mineradora Vale como parte do acordo de reparação pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, a biofábrica deveria beneficiar Brumadinho e outros 21 municípios da bacia do rio Paraopeba, inicialmente com a liberação de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia, tornando-os incapazes de transmitir arboviroses. Contudo, moradores dessas regiões seguem à espera de uma medida concreta contra a doença, enquanto Minas Gerais já soma 26 mortes por dengue e mais de 32,4 mil casos em 2025.
Segundo a Fiocruz, a obra, que custou aproximadamente R$ 20 milhões, apresentou diversas intercorrências durante três meses de testes. A entidade informou que aguarda medidas efetivas por parte da Vale e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) para que a estrutura seja finalmente colocada em funcionamento.
O secretário de Saúde, Fábio Baccheretti, reconheceu os problemas, incluindo falhas na climatização e drenagem de água, que estariam sendo corrigidas pela Vale. A mineradora, por sua vez, afirma que os problemas são normais na fase de Operação Assistida e que a estrutura já estaria funcional, embora a Fiocruz considere que ainda não há condições para operação plena.
Mesmo sem uma previsão oficial para o início da produção, a expectativa da SES-MG é que os “Wolbitos” — nome dado aos mosquitos com Wolbachia — comecem a ser liberados ainda este ano. A instalação tem capacidade para produzir até 2 milhões de mosquitos semanalmente.
Para Maria Regina da Silva, atingida pela tragédia de Brumadinho, o atraso na funcionalidade da biofábrica representa um desrespeito com o processo de reparação. Ela perdeu a filha na tragédia e cobra a implementação de projetos que deem novo significado à perda das vítimas.
A infectologista Luana Araújo alerta para os riscos da demora, destacando que o Brasil enfrenta a reintrodução do sorotipo 3 da dengue e que 2025 ainda é um ano de risco. Segundo ela, a ineficiência em operacionalizar iniciativas como essa pode gerar consequências graves para a saúde pública.
Os primeiros cinco anos da biofábrica terão investimento total de R$ 57 milhões, arcados pela Vale. Depois desse período, a gestão será transferida à Fiocruz, que já opera unidades semelhantes no país. O terreno onde a biofábrica está construída pertence ao governo de Minas Gerais.