Preconceitos e desafios no desenvolvimento do anticoncepcional masculino

Avanços científicos esbarram em resistências culturais

Por Plox

27/04/2024 11h16 - Atualizado há cerca de 1 ano

Apesar da variedade de métodos contraceptivos disponíveis para mulheres, como pílulas, DIUs e adesivos hormonais, os homens ainda dispõem de poucas opções: preservativos e vasectomia. Essa discrepância não se deve apenas a desafios biológicos, mas também a fatores culturais.

Foto: Vetores/Reprodução

De acordo com Elis Nogueira, ginecologista formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a cultura machista impõe às mulheres a maior parte da responsabilidade pela contracepção, deixando-as também a lidar com os efeitos colaterais desses métodos. A especialista enfatiza que a aceitação social dos contraceptivos masculinos é crucial para o progresso nesta área.

Globalmente, pesquisas buscam desenvolver alternativas como o gel hormonal, que suprime a produção de espermatozoides através da administração de hormônios, como a testosterona. Outras abordagens incluem o gel não hormonal ADAM, cuja aplicação bloqueia a passagem de espermatozoides e tem eficácia de 99% em testes preliminares.

Nos Estados Unidos, a empresa Contraline prevê lançar o ADAM até 2027. Este produto, após um período determinado, dissolve-se, permitindo novamente a passagem dos espermatozoides.

Além disso, pesquisadores como Jochen Buck e Lonny Levin, da Escola de Medicina Weill Cornell em Nova York, trabalham em compostos de inibidores de sAC, que impedem os espermatozoides de alcançarem o óvulo. Contudo, estes estudos ainda estão em fases iniciais e seu potencial comercial é incerto.

 

Obstáculos culturais e industriais

Marcelo Horta Furtado, supervisor de Andrologia na Sociedade Brasileira de Urologia, aponta que além da resistência cultural, a indústria farmacêutica mostra pouco interesse em investir em contraceptivos masculinos, prevendo um mercado limitado devido à aversão masculina aos efeitos colaterais.

Enquanto isso, Rafael Ambar, do Serviço de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, observa que essa perspectiva está começando a mudar, com mais homens dispostos a assumir responsabilidades contraceptivas.

A camisinha continua sendo o método mais difundido entre homens, oferecendo a vantagem adicional de prevenir infecções sexualmente transmissíveis. Por outro lado, a vasectomia representa uma opção mais permanente, com uma alta taxa de sucesso em reversões realizadas até cinco anos após o procedimento.

No Brasil, a legislação sobre direitos reprodutivos foi recentemente modificada para permitir a vasectomia em homens a partir dos 21 anos ou que já tenham dois filhos. No Sistema Único de Saúde, o procedimento pode ser solicitado mediante apresentação do cartão do SUS e consulta com um urologista. Contudo, o sistema não oferece a reversão da vasectomia.

Estes avanços e desafios ilustram a complexidade da contracepção masculina, que envolve não apenas desenvolvimentos científicos, mas também mudanças culturais profundas e adaptações no mercado farmacêutico

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