Setor calçadista brasileiro teme impacto da invasão de produtos chineses
Indústria projeta alta de produção em 2025, mas teme demissões diante do aumento de importações asiáticas
Por Plox
27/04/2025 11h00 - Atualizado há cerca de 20 horas
O setor calçadista brasileiro se vê diante de uma ameaça que pode comprometer seu crescimento em 2025: a possível invasão de calçados chineses no mercado nacional, impulsionada pelas recentes tarifas impostas por Donald Trump à China. As sanções econômicas norte-americanas, que chegam a até 245% para os produtos chineses, devem redirecionar grande parte da produção asiática para outros mercados, incluindo o Brasil.

A indústria nacional, que em 2024 movimentou mais de R$ 33 bilhões, planeja a produção de até 904 milhões de pares de calçados em 2025, um aumento de 2% em comparação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Contudo, o presidente da entidade, Haroldo Ferreira, alerta que a concorrência com produtos importados pode colocar em risco os empregos dos mais de 290,3 mil trabalhadores do setor.
'Nossa expectativa é de que não seja necessário cortar postos de trabalho, mas se a importação aumentar demais, a situação pode mudar', cravou Ferreira
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Dados da Abicalçados indicam que entre janeiro e março deste ano, as importações já apresentaram crescimento expressivo, com alta de quase 50% apenas em março. As fábricas chinesas enviaram 2,55 milhões de pares ao Brasil, mesmo antes da entrada em vigor das novas tarifas norte-americanas. Segundo Ferreira, essa tendência pode se intensificar: 'Toda produção que era destinada ao mercado norte-americano será enviada ao restante do mundo, inclusive ao Brasil'.
Em resposta, a Abicalçados está em diálogo com o governo federal para buscar medidas que minimizem os impactos no setor e protejam os postos de trabalho.
Em Minas Gerais, estado responsável por 14% da produção nacional de calçados, a apreensão é ainda maior. Rodrigo Amaral Martins, presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), destacou que a preocupação vai além da China, abrangendo também países como Indonésia, Vietnã e Camboja, que enfrentam tarifações elevadas nos Estados Unidos e podem direcionar seus produtos para o Brasil.
Martins explicou que o fenômeno conhecido como dumping - prática de venda de produtos no exterior a preços inferiores ao mercado interno - ameaça a competitividade das empresas nacionais.
'Quando recebemos produtos subsidiados de regiões com condições fiscais e trabalhistas distintas das nossas, toda a indústria local sofre', enfatizou o presidente do sindicato
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Além da concorrência externa, a escassez de mão de obra também é um desafio. Nova Serrana, tradicional polo calçadista, enfrenta dificuldades históricas para preencher vagas, situação agravada nos últimos tempos. Martins relata que as empresas locais estão estudando alternativas para atrair trabalhadores, como a diversificação das condições de trabalho.
Em Minas, o setor calçadista emprega mais de 31 mil pessoas, sendo o quinto maior empregador do Brasil. Apesar da força, a conjuntura de aumento nas importações e dificuldades de contratação lança sombras sobre as perspectivas positivas para 2025.