Escolas que participam da Obmep têm melhores resultados no Enem, revela estudo

Pesquisa aponta que essas instituições também registram maiores taxas de aprovação e menores distorções idade-série entre seus alunos

Por Plox

27/05/2024 08h43 - Atualizado há cerca de 1 ano

Escolas com altos índices de participação na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) mostram desempenho superior no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É o que indica uma pesquisa do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede). O estudo, divulgado nesta segunda-feira (27), destaca ainda que essas instituições apresentam maiores taxas de aprovação de alunos e menor discrepância entre idade e série.

Impacto na aprendizagem de matemática

A pesquisa avaliou escolas em que pelo menos 65% dos estudantes classificados participaram da segunda fase da Obmep. Nessas instituições, observou-se que a melhoria no aprendizado de matemática se estende a toda a turma, não apenas aos alunos destacados. "A Olimpíada de Matemática vai ter impacto maior em todos os estudantes se ela gerar mais mobilização", afirmou Ernesto Faria, diretor executivo do Iede.

Em escolas com medalhistas, mas baixa participação geral, a pesquisa notou desigualdade interna nas notas do Enem. Ernesto alerta que, sem o efeito mobilizador da Olimpíada, "ela pode acabar ajudando apenas um determinado perfil de alunos", perdendo a oportunidade de melhorar o desempenho dos que mais necessitam.

A média da nota de matemática no Enem para escolas com medalhistas na Obmep foi de 516,1, comparada a 488,5 nas instituições sem participação ou premiação.

Desempenho no Saeb

O estudo também analisou os resultados no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que mede a qualidade educacional no Brasil. Escolas com alunos medalhistas na Obmep tiveram médias de 270,3 pontos no ensino fundamental e 288,8 no ensino médio. Em contraste, as que não participaram ou não foram premiadas registraram 240,2 e 269,8 pontos, respectivamente.

"A Olimpíada é um programa muito importante que gerou ações de mobilização e de reconhecimento da matemática nas escolas. Mas é preciso ter esse olhar de como não promover desigualdade", disse Ernesto Faria. Ele enfatiza que a Obmep pode ser ainda mais transformadora.

Benefícios adicionais

Além do melhor desempenho no Enem e Saeb, o envolvimento na Obmep também facilita o acesso ao ensino superior. Escolas com alta participação e premiação têm mais alunos alcançando médias compatíveis com as exigências de faculdades públicas e privadas.

Criada em 2005, a Obmep se tornou uma importante política pública para promover o ensino da matemática no país. Organizada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), ligado aos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC), a competição registrou dois recordes em sua 19ª edição: participação de escolas em 99,9% dos municípios e envolvimento de 56.513 instituições, a maior desde seu início.

Desafios e políticas públicas

Apesar dos bons resultados, a pesquisa destaca a necessidade de políticas públicas que incluam melhorias estruturais e formação continuada para professores. O estudo mostra que o bom desempenho de algumas escolas muitas vezes se deve a professores "fora da curva", mais do que a fatores estruturais. "Vimos algumas práticas interessantes, alguns professores muito fora da curva, realmente de muita qualidade", comentou Ernesto Faria.

Para melhorar o ensino de matemática, é essencial garantir formação adequada para os professores e melhores condições de trabalho. "Temos poucas escolas que de fato registram resultado alto em matemática", observa Ernesto. Ele acrescenta que a alfabetização deve incluir a habilidade de lidar bem com números e operações matemáticas, e não apenas a capacidade de ler e escrever.

Conclusão

A pesquisa do Iede traz à tona a importância da Obmep na melhoria do desempenho escolar em matemática e no Enem. Entretanto, destaca a necessidade de ações complementares para evitar desigualdades e garantir que todos os alunos possam se beneficiar igualmente. Experiências de sucesso no Brasil e no exterior devem ser mapeadas e replicadas para fortalecer ainda mais a educação matemática no país.

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