Corpos empilhados e ratos no SVO da USP: denúncias revelam cenário alarmante
Funcionários relatam infraestrutura precária, jornadas exaustivas e falta de equipamentos no Serviço de Verificação de Óbitos de São Paulo, com autuações e problemas persistindo há um ano
Por Plox
27/05/2025 22h46 - Atualizado há 4 dias
Relatórios obtidos pela TV Globo evidenciam uma realidade crítica no Serviço de Verificação de Óbitos da Universidade de São Paulo (SVO-USP), localizado na região central da capital paulista.

Segundo os documentos, problemas estruturais, de segurança e de higiene têm se arrastado por pelo menos um ano, sem solução efetiva. Falta de funcionários, jornadas exaustivas que chegam a 36 horas, ausência de equipamentos básicos como macas em bom estado e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) fazem parte do cenário.
Funcionários ouvidos pela reportagem relataram que, devido à escassez e ao mau estado das macas — algumas quebradas ou com as borrachas desgastadas —, os corpos acabam sendo empilhados nos corredores, fora das câmaras frias, o que atrai ratos. Um trabalhador, sob anonimato, afirmou que atualmente apenas dois funcionários atuam por turno, número insuficiente para a demanda. À noite, não há expediente, o que faz com que os corpos se acumulem até o dia seguinte.
Em maio de 2024, a Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) da Prefeitura de São Paulo autuou a USP por conta da falta de EPIs e de condições mínimas de higiene. Já em março daquele mesmo ano, um laudo do Serviço de Segurança e Medicina do Trabalho da própria universidade recomendava a troca de macas desgastadas e a compra de novos equipamentos de proteção — nada foi feito.
No ano anterior, uma matéria da TV Globo já havia exposto a realidade enfrentada pelos funcionários de uma empresa terceirizada responsável pelo transporte dos corpos, que precisavam improvisar usando lençóis e cobertores por falta de sacos plásticos adequados.
A diretora do Sintusp, Solange Conceição Lopes, confirmou ter solicitado melhorias à diretoria da USP, sem sucesso. Segundo ela, a instituição nega os problemas e mantém o discurso de que “está tudo normal”.
Nesta terça-feira (27), o analista de sistemas Antonio Valente relatou ter aguardado por oito horas pela liberação do corpo da tia — o dobro do tempo habitual. A demora, segundo funcionários, está ligada à redução do quadro de profissionais.
O vice-diretor do SVO, Luiz Fernando Ferras da Silva, afirmou que esses casos não fazem parte do protocolo e mencionou um episódio específico com roedores em uma lixeira com restos de comida. Ele garantiu que a área foi desratizada e reestruturada, mas admitiu que o número de funcionários tem caído, sem reposição por parte da universidade.
Sobre as autuações da Covisa, Ferras da Silva disse que foram feitas melhorias e que hoje todos os trabalhadores possuem EPIs.
Mesmo assim, a rotina segue marcada por precariedade, exposição a riscos e descaso institucional, de acordo com os próprios trabalhadores.