Ex-diretor da PRF admite blitze nas eleições, mas nega motivação política
Djairlon Moura depôs ao STF como testemunha de Anderson Torres e confirmou operações em regiões estratégicas
Por Plox
27/05/2025 13h06 - Atualizado há cerca de 1 mês
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (27), o ex-diretor de Operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Djairlon Henrique Moura, admitiu que a corporação realizou blitze no dia do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, mas negou qualquer motivação política nas ações.

Djairlon afirmou que o objetivo das fiscalizações era verificar a situação dos veículos e dos condutores, e garantiu que mais de 60% dos veículos fiscalizados foram liberados em menos de 15 minutos. Ele também confirmou que houve uma operação para monitorar o transporte de eleitores do Centro-Oeste e Sudeste com destino ao Nordeste, nos dias que antecederam o pleito. No entanto, rejeitou qualquer acusação de que isso tenha sido feito para prejudicar eleitores de determinada região.
O ex-diretor depôs como testemunha do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em processo que envolve o chamado núcleo central da suposta tentativa de golpe de Estado, onde também figura como réu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras sete pessoas. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), houve uma reunião em 19 de outubro de 2022 na qual se discutiu um suposto “policiamento direcionado” para o segundo turno das eleições. Djairlon confirmou sua presença na reunião, mas negou qualquer direcionamento político ou parcialidade por parte de Torres.
A denúncia inclui uma troca de mensagens em que Marília de Alencar, então diretora de inteligência do Ministério da Justiça, teria relatado que Anderson Torres “meteu logo um 22”, em referência ao número eleitoral de Bolsonaro. Djairlon, por sua vez, negou que isso tenha ocorrido.
O depoimento foi contestado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que ressaltou que Djairlon é investigado em inquérito sobre essas operações e, portanto, seu testemunho poderia ser inválido. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, reiterou durante a audiência que o depoente, na condição de investigado, não poderia ser obrigado a falar a verdade.
Além de Djairlon, também foi ouvido Caio Rodrigo Pelim, ex-diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal. Ele também participou da reunião de outubro de 2022 e declarou que, pelo que presenciou, não houve viés político nas discussões. Gonet contestou a presença de Pelim, afirmando que ele também é investigado no mesmo inquérito, informação que teria surpreendido a defesa de Torres e o próprio depoente.
Na época das operações, Silvinei Vasques era o diretor-geral da PRF. Um relatório do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE-RN) apontou indícios de que as blitze realizadas pela PRF possam ter atrasado a chegada de eleitores aos locais de votação, especialmente no Nordeste, região de tradicional apoio ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Vasques chegou a ser preso preventivamente em agosto de 2023 e atualmente cumpre medidas restritivas, como o uso de tornozeleira eletrônica.