Moradores do Rio vivem drama com ataque de borrachudos
Infestação de mosquitos em bairros da Zona Oeste e Norte provoca reações alérgicas, afeta comércio e preocupa autoridades de saúde
Por Plox
27/05/2025 23h09 - Atualizado há 1 dia
A presença crescente de borrachudos, também conhecidos como piúm, tem mudado a rotina de diversos moradores nas zonas Oeste e Norte do Rio de Janeiro. O aumento atípico desses mosquitos, especialmente em bairros próximos a áreas de mata e lagoas, como Alto da Boa Vista, Rio das Pedras, Ilha da Gigoia, Itanhangá, Barrinha, Morro do Banco e Tijuquinha, vem provocando uma onda de queixas por conta das picadas doloridas e suas consequências.

Com menos de 4 milímetros, o Simulium spp, nome científico do inseto, realiza picadas cortantes que resultam em coceiras intensas, inchaço, vermelhidão e até reações alérgicas severas. Em alguns casos, os sintomas levaram moradores a buscar atendimento médico. Vilma Santiago, moradora da Ilha da Gigoia, relatou que sua neta de cinco anos desenvolveu uma celulite após ser picada e precisou tomar benzetacil devido à febre alta e infecção.

Apesar da infestação não ser novidade, o ano de 2025 marcou uma intensificação considerada fora do comum. Segundo a Prefeitura, o uso do fumacê não é eficaz contra os borrachudos. Ao contrário, pode agravar a situação ao eliminar predadores naturais do mosquito. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, explica que os inseticidas aplicados por nebulização podem causar um desequilíbrio ecológico, contribuindo para o aumento da espécie.
Para tentar conter o avanço, a Prefeitura criou uma comissão especial na Câmara Municipal e iniciou ações conjuntas com a Comlurb e os Guardiões do Rio, focadas na remoção de matéria orgânica das margens dos rios e na lavagem das pedras em áreas canalizadas. A Secretaria de Ordem Pública também atua na demolição de construções irregulares nas regiões afetadas.
Moradores relatam impactos diretos na vida cotidiana. Escolas, comércios, igrejas e pontos turísticos viram a presença de pessoas diminuir, o que reflete na economia local. “Está destruindo negócios e empregos”, alertou o vereador Marcelo Diniz (PSD), um dos responsáveis pela comissão.
O ciclo do borrachudo, que pode durar até 45 dias, é alimentado por matéria orgânica presente em rios poluídos. A degradação ambiental, como o desmatamento e a poluição de cursos d’água, contribui para a proliferação. A preservação da mata ciliar e a limpeza dos rios são apontadas como medidas essenciais.
Uma das poucas substâncias eficazes contra os borrachudos é o larvicida biológico BIT, mas sua ação é temporária e rapidamente diluída pela água corrente. Especialistas reforçam que o combate mais efetivo passa por restaurar o equilíbrio ambiental e proteger os predadores naturais do mosquito.
Para se proteger, recomenda-se o uso constante de repelentes – preferencialmente aplicados sobre cremes hidratantes para aumentar sua duração. Ainda assim, moradores afirmam que o incômodo persiste mesmo com roupas grossas, como meias, casacos e luvas, e muitos adotaram óculos de proteção ao circular ao ar livre, como relatou a moradora Gisele Guimarães.
O caso evidencia a urgência de ações integradas e sustentáveis para frear o avanço desse problema que já afeta diretamente a saúde e a rotina de milhares de cariocas.