Motorista baleado morre após peregrinar por hospitais sem conseguir tomografia
Vagner Santos Ferreira, atingido na cabeça durante corrida por aplicativo no Rio, não resistiu após ser recusado em dois hospitais por falta de equipamento compatível com seu peso
Por Plox
27/05/2025 23h00 - Atualizado há 24 dias
A trágica morte do motorista de aplicativo Vagner Santos Ferreira, de 39 anos, expôs um grave problema no sistema de saúde do Rio de Janeiro. Na noite da última segunda-feira (26), enquanto realizava uma corrida iniciada na estação de trem de Realengo com destino à Rua Nova Guiné, em Senador Camará, ele foi baleado na cabeça por um dos passageiros na Rua Júlio de Melo.

Segundo relatos da família, Vagner — que pesava mais de 140 kg — chegou a ser socorrido, mas enfrentou uma verdadeira peregrinação entre unidades de saúde. Primeiro, foi levado ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, onde permaneceu na sala vermelha sem conseguir realizar uma tomografia, essencial para avaliação de seu estado. A falta de um equipamento compatível com seu peso impediu o exame.
Por volta das 23h, ele foi transferido para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. No entanto, segundo o irmão Vanderson Ferreira, o hospital se recusou a dar entrada no paciente, mesmo com a presença de neurocirurgião na unidade. O motivo alegado foi a impossibilidade de realizar a tomografia também nessa unidade, resultando no retorno de Vagner para o hospital de origem.
Ele permaneceu sem atendimento adequado das 23h até as 5h da manhã seguinte, quando morreu.
Vagner era eletricista de formação, mas atuava como motorista de aplicativo há cinco anos, por não ter conseguido colocação na sua área. Ele costumava compartilhar sua localização com a família em corridas suspeitas, o que não aconteceu naquela noite. Sua carteira foi levada no assalto, mas o celular foi deixado.
O histórico do aplicativo mostra que a corrida durou 27 minutos antes de ser cancelada. O nome que aparece no pedido da corrida é de uma mulher, porém testemunhas viram dois homens no veículo. A família acredita que ele foi vítima de uma emboscada.
“Ele estava com dois rapazes no carro, um no banco de trás e outro na frente. Foi este último quem atirou e depois fugiram para a comunidade da Vila Aliança”, contou o irmão.
O carro foi levado à 34ª DP (Bangu) e passou por perícia. A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que notificará a Secretaria Municipal para que falhas no processo de regulação não voltem a ocorrer. Já o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, justificou que os equipamentos disponíveis não suportavam o peso do paciente e que os médicos desaconselharam a realização do exame devido à gravidade do ferimento: uma bala alojada no crânio em área de difícil acesso.