Com seca intensa, Minas impõe restrições de captação em rios e alerta para crise
Nove cidades já sofrem cortes no uso da água e outras regiões estão sob risco de medidas mais severas
Por Plox
27/07/2025 10h53 - Atualizado há 5 dias
Com a estiagem prolongada em Minas Gerais, que vai de maio a setembro, os efeitos da seca se intensificam e já causam impactos severos em diversas regiões do estado.

Nesta semana, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) determinou a restrição na captação de água em um trecho do Rio Paraopeba, que passa por Belo Vale e Entre Rios de Minas, na Região Central, após o nível de vazão atingir um ponto considerado crítico. A medida, válida por 90 dias, estabelece cortes que variam de 20% a 50%, dependendo da finalidade do uso da água, e poderá ser prorrogada ou até ampliada caso não chova nos próximos meses.
Além dessas duas cidades, a restrição também afeta Conselheiro Lafaiete, Congonhas, Cristiano Otoni, Jeceaba, Ouro Branco, Ouro Preto e Queluzito. A Copasa informou que monitora a situação nos municípios sob sua responsabilidade e que tomará providências para garantir o abastecimento, pedindo à população que utilize a água de forma consciente, principalmente nas áreas mais altas e distantes dos pontos de captação.
A decisão faz parte de um protocolo estabelecido após a crise hídrica de 2015, considerada a mais grave da história recente do estado. O objetivo é assegurar uma vazão mínima para preservar os ecossistemas e atender aos usos prioritários da água. Os cortes vão de 20% para abastecimento público e consumo humano, até 50% para usos menos prioritários. Atividades industriais e agroindustriais terão redução de 30%, enquanto a irrigação sofrerá corte de 25%.
Segundo o diretor-geral do Igam, Marcelo da Fonseca, a situação é resultado de uma vazão abaixo do ideal para o período. O monitoramento é feito por meio do Sistema Mira, que acompanha em tempo real os níveis nos principais pontos de captação de água do estado. Em Belo Vale, a reportagem encontrou o nível do rio visivelmente abaixo do normal: o que costumava alcançar 4 metros de altura, estava abaixo de 1 metro. Já na zona rural, moradores dependem de poços e cisternas, que também sofrem com a seca.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, Heleno Maia, afirmou que a situação surpreendeu, já que o trecho afetado não costuma ter vazão tão baixa. Ele alertou para a necessidade de revisão das outorgas de captação de água, muitas delas concedidas há mais de uma década e sem considerar alterações ambientais recentes, como o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 2019.
A crise também atinge outras regiões do estado. Trechos do Rio das Velhas, no Norte de Minas, e da bacia do Paraíba do Sul, na Zona da Mata, já estão em nível de alerta e podem ter restrições impostas nas próximas semanas. As secretarias municipais dessas áreas já foram notificadas para reforçar a fiscalização e monitoramento.
Os reservatórios que integram o Sistema Paraopeba — Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores — ainda operam dentro do esperado para o período seco, segundo a Copasa. No entanto, o volume total caiu de 88,4% em maio para 77,8% em 25 de julho. O reservatório de Vargem das Flores, por exemplo, está com apenas 68,2% de sua capacidade, enquanto o de Serra Azul opera com 65,2%. O mais confortável é o de Rio Manso, com 84,7%.
A Copasa destacou que melhorias estão em andamento no sistema, com investimentos superiores a R$ 3 bilhões. Entre as ações, estão a construção de uma adutora que ligará os sistemas Paraopeba e Rio das Velhas e a ampliação da capacidade do Sistema Rio Manso. Com essas obras, a expectativa é aumentar a vazão de 5,8 m³/s para 9,0 m³/s, assegurando o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, mesmo em caso de falhas em um dos sistemas.