Saúde

Fungo modificado elimina até 100% dos mosquitos transmissores de doenças

Pesquisadores desenvolvem microrganismo que atrai e mata mosquitos responsáveis por dengue, malária e zika, oferecendo alternativa segura e acessível aos pesticidas

27/10/2025 às 11:33 por Redação Plox

Pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, criaram uma cepa de fungo capaz de atrair e eliminar mosquitos responsáveis pela transmissão de doenças como dengue, malária e zika. O avanço oferece uma alternativa à crescente resistência dos insetos aos pesticidas tradicionais.

Cientistas criam microrganismo capaz de atrair e eliminar mosquitos que transmitem dengue, malária e zika

Cientistas criam microrganismo capaz de atrair e eliminar mosquitos que transmitem dengue, malária e zika

Foto: Reprodução

Mosquitos armazenados em um recipiente

Mosquitos armazenados em um recipiente

Foto: Mark Sherwood e Raymond St. Leger/Universidade de Maryland

Fungo modificado libera aroma capaz de atrair mosquitos

O microrganismo, do gênero Metarhizium, foi geneticamente alterado para liberar um aroma adocicado semelhante ao das flores. Este cheiro funciona como um atrativo irresistível para os mosquitos adultos, que buscam néctar como fonte de energia essencial.

A pesquisa, publicada na revista Nature Microbiology, destaca que após serem atraídos pelo fungo, os mosquitos são infectados e morrem em poucos dias.

Longifolene: substância-chave contra os vetores

O segredo dessa estratégia inovadora é o longifolene – um composto de odor doce já utilizado em perfumes humanos. Os cientistas notaram que o longifolene potencializa o poder de atração do fungo.

Depois de observarmos que certos fungos conseguiam enganar os mosquitos, percebemos que poderíamos turbinar a atração modificando-os para produzir mais longifolene. – Raymond St. Leger, coautor do estudo e pesquisador emérito da Universidade de Maryland

Testes em laboratório mostraram que a técnica matou entre 90% e 100% dos mosquitos, mesmo diante de outras fontes de aromas, como flores naturais e cheiro humano.

Segurança e baixo custo de produção

Os pesquisadores ressaltam que o fungo não faz mal a pessoas nem a outros animais, já que o longifolene tem histórico seguro em cosméticos. Ele pode ser cultivado em materiais de baixo custo, como fezes de galinha, cascas de arroz e restos de trigo, tornando a solução acessível a países de baixa renda, que são justamente os mais impactados por doenças transmitidas por mosquitos.

O fungo é fácil de usar e continua liberando o aroma por meses, mesmo em ambientes abertos. Pode ser uma ferramenta importante para comunidades que não têm acesso a tecnologias complexas. – St. Leger

Biotecnologia enfrenta a resistência dos mosquitos

Os especialistas explicam que, ao contrário dos inseticidas químicos, os mosquitos teriam de abrir mão de procurar flores para conseguir escapar da armadilha do longifolene, comprometendo sua própria sobrevivência.

Se evoluírem para ignorar o longifolene, teriam de deixar de responder às flores — e isso comprometeria sua sobrevivência. – St. Leger

A equipe também busca formas de adaptar o fungo para produzir outros compostos florais, caso surjam populações resistentes ao aroma inicial.

Desafio global com a expansão dos mosquitos

Com o avanço das áreas tropicais e o aquecimento global, os mosquitos transmissores já se espalham para regiões antes livres dessas doenças, incluindo partes dos Estados Unidos e da Europa. Estratégias inovadoras como essa tendem a ser cada vez mais urgentes diante do novo cenário epidemiológico.

Os mosquitos adoram as mudanças que estamos provocando no planeta. Hoje, queremos usar essa tecnologia na África, Ásia e América do Sul. Mas um dia, poderemos precisar dela para nós mesmos. – St. Leger

O fungo será agora avaliado em testes de campo em larga escala antes de iniciar o processo de aprovação regulatória. O objetivo, segundo os pesquisadores, é oferecer um arsenal diversificado de ferramentas adaptadas às realidades de diferentes regiões, aumentando as opções de combate e prevenção.

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