Durante palestra no TST, Garçom descobre passado de trabalho escravo no Pará

Maurício de Jesus Luz, vítima de abusos na infância e adolescência, descobre realidade após palestra

Por Plox

28/01/2024 10h17 - Atualizado há 6 meses

Um garçom de 44 anos, Maurício de Jesus Luz, empregado no Tribunal Superior do Trabalho (TST), descobriu ter sido vítima de trabalho escravo dos 4 aos 18 anos, em fazendas no interior do Pará. Sua revelação ocorreu durante uma palestra no TST em 2022, onde ouviu a história de Simone André Diniz, empresária que enfrentou o racismo.

Foto: Procuradoria-Geral do Trabalho/Divulgação

Luz, que acreditava ser normal sua vivência de infância e adolescência, detalhou a dura realidade de sua vida nas fazendas. Sem salário e submetido a agressões físicas diárias, incluindo golpes de chicote, chibata e xingamentos, ele carrega as cicatrizes físicas e mentais até hoje. "Por mais que eu trabalhasse, nunca agradava o patrão. Eu trabalhava 24 horas sem receber, era um escravo moderno", relata Luz.

Dados do Ministério Público do Trabalho (MPT) revelam que 3.190 pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão no Brasil no ano passado, o maior número em 14 anos. Nos tribunais regionais do trabalho do país, foram recebidos 2.786 processos sobre o tema entre 2021 e 2023.

Luz compartilha sua trajetória de vida, marcada pela pobreza e abandono. Desde bebê, foi deixado pela mãe e entregue à avó, que trabalhava em uma fazenda em Imperatriz, Maranhão. Morando em condições insalubres, Luz e sua avó não tinham acesso a banheiros e dependiam do rio para banho. Aos 4 anos, já realizava tarefas na fazenda, e sua situação se agravou após a morte da avó.

Ele fugiu de uma fazenda para outra na esperança de um tratamento melhor, mas encontrou as mesmas condições de violência e exploração. Aos 18 anos, Luz recebeu sua certidão de nascimento de um casal de idosos, que o acolheu e o registrou como filho. Apesar dos abusos sofridos, ele não pretende buscar justiça contra seus agressores.

O ministro Augusto César Leite de Carvalho, coordenador do Programa de Enfrentamento ao Trabalho Escravo do TST, destacou a importância de decisões judiciais severas contra a escravidão, classificando-a como um crime de lesa humanidade. O procurador Luciano Aragão Santos, do MPT, enfatiza a necessidade de políticas de prevenção e redução da vulnerabilidade das potenciais vítimas, incluindo punições administrativas e penais para empregadores que submetem trabalhadores a essas condições.

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