Com Bolsonaro réu, PL pressiona por anistia para “golpistas” do 8 de Janeiro

Partido articula ofensiva no Congresso para aprovar projeto que pode beneficiar o ex-presidente, mas enfrenta resistência do presidente da Câmara e do STF

Por Plox

28/03/2025 10h03 - Atualizado há 3 dias

O Partido Liberal (PL), liderado por Jair Bolsonaro, tem se mobilizado intensamente para tentar aprovar no Congresso um projeto de lei que prevê a anistia aos envolvidos nos atos golpistas do 8 de Janeiro. A proposta pode ter impacto direto sobre a situação jurídica do ex-presidente, agora réu por tentativa de golpe, conforme decisão recente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).


Imagem Foto: Câmara dos Deputados


Apesar da urgência demonstrada pelo PL, o maior entrave à iniciativa está na postura do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que tem evitado confronto direto com o STF. Motta acompanha a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem pela Ásia, passando por países como Japão e Vietnã. A expectativa do PL é intensificar as negociações assim que ele retornar ao Brasil.



Internamente, o PL tem realizado encontros semanais para alinhar estratégias de pressão sobre Motta, especialmente para que ele coloque em votação o requerimento de urgência que levaria o projeto da anistia ao Plenário. Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da legenda na Câmara, já sinalizou que poderá obstruir votações caso a proposta não avance. Com 92 deputados, o partido tem força para influenciar significativamente os rumos da pauta legislativa.


Na tentativa de sensibilizar a opinião pública, Bolsonaro tem citado casos como o da cabeleireira Débora Rodrigues, condenada a 14 anos de prisão por pichar a estátua da Justiça, como exemplos de penas desproporcionais aplicadas pelo STF. Ele tem insistido no caráter humanitário da anistia e afirmou que não busca confronto, mas sim a pacificação do país.



Surpreendentemente, o ministro Luiz Fux, integrante da Primeira Turma do Supremo, manifestou entendimento semelhante ao de Bolsonaro durante o julgamento da denúncia. Fux declarou que considerou a pena de Débora exagerada, destacando que \"por baixo da toga, bate o coração de um homem\".


Mesmo com essas declarações, Hugo Motta tem adotado postura cautelosa. Apesar de ter feito declarações críticas às penas aplicadas aos presos do 8 de Janeiro logo após assumir a presidência da Câmara, interlocutores afirmam que ele não quer tensionar a relação com o STF no início de sua gestão. Além disso, questões importantes como a liberação de emendas parlamentares seguem travadas no Supremo, o que reforça a necessidade de manter um diálogo equilibrado com o Judiciário.



Do outro lado, o governo Lula e seus aliados na Câmara têm se mobilizado para impedir qualquer avanço da proposta de anistia. O líder do governo, Lindbergh Farias (PT-RJ), declarou que pautar o projeto significaria colocar o Parlamento em rota de colisão com o Supremo Tribunal Federal. Ele reconheceu as dificuldades enfrentadas pelos parlamentares do PL, mas reforçou que esse tipo de movimentação poderia desencadear uma crise institucional grave entre os poderes.


"Se fizermos qualquer movimento para o PL da anistia, criamos uma crise entre o Parlamento e o Judiciário", afirmou Lindbergh.


Com o cenário ainda indefinido e o embate entre Legislativo e Judiciário ganhando novos contornos, a discussão sobre a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro promete seguir como um dos temas centrais do debate político nas próximas semanas.


Destaques