Dólar sobe e fecha a R$ 5,75 em meio à tensão global

Moeda americana acumula segunda alta seguida, influenciada por novas tarifas dos EUA e cenário fiscal interno incerto

Por Plox

28/03/2025 09h05 - Atualizado há 3 dias

Em mais um dia de instabilidade nos mercados, o dólar fechou a quinta-feira, 27, com alta de 0,36%, sendo cotado a R$ 5,7533 no mercado à vista. Pela manhã, a moeda americana chegou à máxima de R$ 5,7707, encerrando a sessão marcada por perdas generalizadas entre as divisas latino-americanas.


Imagem Foto: Agência Brasil


Desta vez, o real, que costuma apresentar maior vulnerabilidade em cenários de aversão ao risco, conseguiu resistir um pouco melhor que seus pares. Enquanto o peso mexicano intensificava suas perdas após o Banco Central do México (Banxico) cortar a taxa básica de juros para 9% ao ano, as moedas da Colômbia e do Chile lideraram as desvalorizações na região.



A alta do dólar, segundo analistas, foi impulsionada principalmente pelo agravamento do ambiente externo, em especial pelas novas medidas tarifárias anunciadas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Na quarta-feira à noite, Trump revelou a aplicação de tarifas de 25% sobre carros importados, com início marcado para 3 de abril. Em resposta, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou que o país irá retaliar.


No Brasil, fatores internos ajudaram a amenizar a pressão sobre o real. A expectativa de manutenção da taxa Selic em patamar elevado por um período prolongado, reforçada pelo Relatório de Política Monetária (RPM) e pelas declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, tem contribuído para sustentar a moeda brasileira.



Durante entrevista sobre o RPM, Galípolo destacou que o ciclo de aperto monetário iniciado em dezembro alterou a dinâmica do “carry trade” e favoreceu a apreciação do real no primeiro trimestre do ano. Além disso, o IPCA-15 de março veio abaixo das projeções, embora com uma melhora qualitativa, o que mantém no radar a possibilidade de uma nova alta da Selic, como indicado pelo Copom.


No acumulado da semana, o dólar soma ganhos de 0,62% frente ao real, embora em março ainda registre queda de 2,76%.


Cristiano Oliveira, diretor do Banco Pine, avalia que, apesar da valorização do dólar, a visão positiva em relação ao real permanece. Ele projeta a Selic em 14,75% ao final do ciclo, prevendo nova alta de 75 pontos-base em maio, com possibilidade de novo ajuste em junho.


No entanto, incertezas sobre a política fiscal brasileira continuam pesando. Medidas recentes adotadas pelo governo Lula, com foco em ampliar a popularidade, geram desconfiança entre investidores. Entre elas, a alta demanda pelo crédito consignado privado e dúvidas quanto à compensação da nova faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.



Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o cenário externo instável, especialmente em relação às tarifas dos EUA, é o principal fator por trás da atual pressão sobre o câmbio. Ela ressalta que a incerteza global amplia a volatilidade dos ativos de risco, refletindo diretamente na cotação da moeda americana frente às emergentes.


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