Grupo cobrava R$ 250 mil para espionar ministros do STF e tinha arsenal de guerra
Militares e civis integravam organização criminosa investigada por assassinato de lobista; armas pesadas foram apreendidas
Por Plox
28/05/2025 12h26 - Atualizado há 2 dias
Uma investigação da Polícia Federal, iniciada após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, revelou a existência de um grupo de extermínio e espionagem que tinha como alvos autoridades do alto escalão do Judiciário brasileiro, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O grupo, identificado como Comando C4 (Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos), contava com a participação de militares da ativa e da reserva, além de civis ligados a clubes de tiros. A organização criminosa oferecia serviços de espionagem por valores que chegavam a R$ 250 mil, quando o alvo era um ministro do STF. Para senadores, o valor era de R$ 150 mil, e para deputados federais, R$ 100 mil.
Durante a 7ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada nesta quarta-feira (28), agentes federais apreenderam um verdadeiro arsenal de guerra, que incluía fuzis de sniper com silenciador, pistolas com silenciador, lança-rojões tipo AT 34, minas magnéticas e explosivos com detonação remota. Parte dessas armas foi encontrada na casa de Gilberto Louzada da Silva, instrutor de tiro em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A PF também encontrou anotações feitas à mão com nomes de autoridades, entre elas o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado, que repudiou publicamente as ameaças. As investigações apontam que o grupo criminoso pode estar ligado à venda de sentenças judiciais nos tribunais estaduais e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O ponto de partida da investigação foi a execução de Roberto Zampieri, morto com dez tiros em frente ao próprio escritório em Cuiabá, em 2023. A apuração identificou o fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo como mandante do crime, e Antônio Gomes da Silva como executor, que confessou a autoria. Ambos estão entre os alvos da PF.
Além deles, foram indiciados por envolvimento no caso o coronel reformado do Exército Etevaldo Caçadini de Vargas, o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa e o já citado Gilberto Louzada. Os três negam participação no assassinato.
Nesta nova fase da operação, a PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, quatro de monitoramento eletrônico e seis de busca e apreensão em três estados: Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.
A partir do conteúdo do celular de Zampieri, a PF também descobriu indícios de que decisões judiciais estavam sendo vendidas em gabinetes de ministros do STJ. Esse inquérito segue em sigilo no STF, sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin.
Em outubro de 2024, essas descobertas resultaram no afastamento de cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS). A motivação por trás do assassinato de Zampieri pode estar relacionada a processos de disputas de terras em trâmite no Tribunal de Justiça do Mato Grosso, segundo a Polícia Civil do estado.
As investigações seguem em andamento também no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que acompanha os desdobramentos dos casos de venda de sentenças envolvendo diferentes tribunais brasileiros.