Grupo militar que matou lobista espionava ministros do STF e vendia sentenças
Morte de advogado em MT levou à descoberta de rede de espionagem, assassinatos por encomenda e venda de decisões judiciais no TJMS e STJ
Por Plox
28/05/2025 09h31 - Atualizado há 17 dias
A execução do advogado Roberto Zampieri, morto com dez tiros em frente ao seu escritório em Cuiabá (MT) em 2023, foi o ponto de partida para uma das maiores investigações sobre corrupção no Judiciário brasileiro.

Segundo relatório da Polícia Federal, o grupo responsável pela morte de Zampieri era composto por militares da ativa e da reserva, e atuava como organização criminosa especializada em espionagem e assassinatos por encomenda. A operação desencadeada nesta quarta-feira (28), batizada como 7ª fase da Operação Sisamnes, teve como foco os supostos mandantes do crime e revelou uma rede de venda de sentenças judiciais envolvendo tribunais estaduais e o STJ.
A investigação identificou que o grupo, autodenominado Comando C4 — sigla para Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos — espionava ministros do STF por até R$ 250 mil. Espionar deputados custava R$ 100 mil e senadores, R$ 150 mil. Tabelas com valores de espionagem e assassinatos, bem como nomes de autoridades, foram encontradas pela PF.
Entre os envolvidos estão o fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo, apontado como mandante do assassinato, e Antônio Gomes da Silva, executor do crime. Outros indiciados são o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa, o coronel reformado Etevaldo Caçadini de Vargas e Gilberto Louzada da Silva.
Além das prisões preventivas, a PF cumpriu mandados de busca, apreensão e monitoramento eletrônico nos estados de Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. A investigação também resultou no afastamento de cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS), ocorrido em outubro de 2024, a partir de mensagens encontradas no celular de Zampieri.
Os registros de texto e áudio recuperados revelaram suspeitas de vendas de decisões por gabinetes de quatro ministros do STJ. O conteúdo está sob sigilo e em análise pelo ministro Cristiano Zanin, do STF. A Polícia Civil do Mato Grosso apura ainda motivações ligadas a disputas de terras.
Um dos principais nomes ligados a Zampieri era Anderson Gonçalves, seu lobista. Ele aparece em áudios cobrando pagamentos e intermediando contatos com desembargadores. Essas mensagens também motivaram o afastamento dos magistrados Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, do TJMT, por ordem do CNJ, que também determinou quebra de sigilos bancários e fiscais.
O escândalo se conecta com outra frente de investigação: a Operação Mineração de Ouro, iniciada em 2021. Essa apuração revelou fraudes no TCE-MS, incluindo contratação de funcionários fantasmas, lavagem de dinheiro e superfaturamento de contratos com a empresa Dataeasy. Foram apreendidos R$ 1,6 milhão em dinheiro e afastados conselheiros como Waldir Neves e Ronaldo Chadid.
A terceira fase da Mineração de Ouro, batizada Casa de Ouro, trouxe à tona indícios de que um imóvel de luxo pertenceria a Waldir Neves, registrado em nome de laranja. Durante três anos, a PF analisou documentos e mensagens que agora culminam na nova ofensiva desta semana contra uma ampla rede de corrupção, homicídios e espionagem de autoridades em todo o país.