Mandante da morte de Gritzbach investiu R$ 900 mil em filme sobre facções criminosas
Foragido, 'Cigarreira' é dono de rádio e produtora que financiou documentário exaltando líderes do PCC e do CV, segundo investigação policial
Por Plox
28/05/2025 08h48 - Atualizado há 2 dias
A investigação sobre a execução de Vinicius Gritzbach, morto a tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, revelou a ligação direta de Emilio Carlos Gongorra Castilho, conhecido como \"Cigarreira\", com o crime. Foragido desde o assassinato, ele é apontado como o principal mandante e teria financiado, por meio de sua produtora, um documentário sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), investindo cerca de R$ 900 mil na produção.

Cigarreira comandava uma rádio, a Street FM, e uma produtora chamada K2, ambas instaladas em um ponto nobre da capital paulista, na Avenida Paulista. Segundo a polícia, ele deixou essas atividades logo após a morte de Gritzbach. O documentário, intitulado \"O Grito – Regime Disciplinar Diferenciado\", foi lançado na Netflix em setembro de 2024 e tem quase duas horas de duração. O conteúdo, de acordo com relatório da polícia, promove uma visão favorável aos chefes das duas facções criminosas e critica duramente o sistema carcerário.

O assassinato de Gritzbach, ocorrido em novembro de 2024, teve como uma de suas motivações a vingança pela morte de comparsas de Cigarreira. A execução foi filmada por câmeras de segurança, e a investigação apontou que a celebração pela morte do delator ocorreu numa comunidade do Rio de Janeiro sob controle do CV. Antes do crime, Emilio fugiu de Jundiaí em um avião particular rumo à capital fluminense, onde possivelmente ainda se esconde com o apoio de integrantes das facções.
A polícia encontrou em imóveis ligados ao suspeito uma réplica de fuzil emoldurada, além de outros objetos que sugerem seu envolvimento com o crime organizado. Apesar dos avanços nas investigações, Cigarreira segue foragido e utiliza duas identidades falsas para dificultar sua captura.
O documentário financiado por ele é alvo de duras críticas por parte das autoridades. Conforme o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a obra apresenta os líderes Marcola e Marcinho VP sob uma ótica que os vitimiza, abordando a realidade de suas famílias e criticando o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que impõe condições rigorosas a presos de alta periculosidade.
Entre os entrevistados na produção estão o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o padre Júlio Lancelotti e os rappers Dexter e Oruam — este último filho de Marcinho VP. Também participam familiares de Marcola.
A delegada Luciana Peixoto, responsável pelo inquérito do DHPP, afirmou no relatório que a produção visava divulgar ideias das facções e fortalecer sua imagem. A origem dos recursos para o filme ainda não foi esclarecida, mas o diretor Rogério Giannetto declarou à polícia que recebeu pagamentos da produtora K2 e que a proposta do documentário surgiu em reunião com representantes da empresa, sem a presença de Cigarreira.
Giannetto relatou ainda que recebeu passagens pagas para promover o filme na Europa, compradas por Kauê do Amaral Coelho, conhecido como \"Jubi\", apontado como integrante do grupo responsável pela execução de Gritzbach.
Apesar da repercussão e das premiações internacionais recebidas pelo filme, incluindo menções honrosas no Marrocos, Itália, EUA, Bangladesh e prêmio de melhor documentário na Argentina, as investigações brasileiras ligam sua produção diretamente a atividades criminosas. A Netflix, por sua vez, afirmou que não produziu o filme, apenas o licenciou para exibição.
Outro ponto abordado nas apurações é a ONG Pacto Social e Carcerário, que aparece no documentário. A entidade foi alvo de operação da polícia e do Ministério Público de São Paulo, que prendeu 12 pessoas. Segundo o Gaeco, trata-se de um braço do PCC, atuando na propagação de informações distorcidas sobre o sistema penitenciário para manipular a opinião pública.
Vinicius Gritzbach, corretor de imóveis, havia enriquecido negociando propriedades para lavar dinheiro das facções. Além de Cigarreira, outro apontado como mandante do crime é Diego dos Santos Amaral, o \"Didi\". A execução teria sido realizada por policiais militares, segundo o DHPP.
“Os criminosos que financiaram ‘O Grito’ tinham o objetivo de propagar as ideias do PCC e do CV”, declarou a delegada Luciana Peixoto no relatório do inquérito policial
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A defesa dos investigados não foi localizada até o fechamento desta matéria. O caso segue em investigação com desdobramentos ainda em andamento.