PF aponta que grupo que matou advogado também espionava Rodrigo Pacheco
Ex-presidente do Senado foi alvo da organização criminosa que assassinou Roberto Zampieri; grupo elaborava tabela de preços para espionagem e execuções
Por Plox
28/05/2025 10h50 - Atualizado há 27 dias
Documentos da Polícia Federal revelaram que o senador Rodrigo Pacheco, que presidiu o Senado até fevereiro de 2025, constava na lista de alvos de um grupo de extermínio e espionagem responsável pelo assassinato do advogado Roberto Zampieri, conhecido como 'lobista dos tribunais'. A informação foi divulgada pela GloboNews.

A organização criminosa, que se autodenominava Comando C4 – sigla para Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos – era composta por militares da ativa e da reserva, além de civis com ligações a clubes de tiros. O grupo tinha um funcionamento estruturado, com tabelas de preços para serviços de espionagem e execuções, inclusive com valores diferenciados conforme o cargo da vítima.
Segundo o relatório da PF, a espionagem de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) custava R$ 250 mil. No caso de senadores, como Pacheco, o valor era de R$ 150 mil, enquanto deputados tinham preço de R$ 100 mil. Foram encontrados documentos escritos à mão com nomes de autoridades, incluindo ministros e parlamentares.
As descobertas surgiram no contexto da investigação da morte de Zampieri, assassinado com 10 tiros em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT). A PF aponta o fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo como mandante do crime, com execução atribuída a Antônio Gomes da Silva. Também foram indiciados Hedilerson Fialho Martins Barbosa, instrutor de tiro, o coronel reformado Etevaldo Caçadini de Vargas e Gilberto Louzada da Silva.
A nova fase da Operação Sisamnes foi deflagrada nesta quarta-feira (28), com o cumprimento de cinco mandados de prisão preventiva, quatro de monitoramento eletrônico e seis de busca e apreensão em Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.
Foi a partir da apuração do assassinato de Zampieri, de 57 anos, que as autoridades chegaram à atuação da quadrilha também na venda de decisões judiciais em tribunais estaduais e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). As mensagens encontradas no celular do advogado sustentam diversas frentes de investigação.
Entre os desdobramentos, destaca-se o afastamento, em outubro de 2024, de cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS), devido a indícios de envolvimento na venda de sentenças. As suspeitas se estendem a quatro ministros do STJ, conforme investigações sob sigilo no STF, com relatoria do ministro Cristiano Zanin.
Mensagens de texto e áudios identificados pela PF revelam que Anderson Gonçalves, considerado o principal lobista de Zampieri, atuava na mediação entre o advogado e desembargadores. Gonçalves cobrava valores pendentes e buscava decisões favoráveis a clientes de Zampieri tanto no TJMT quanto no TJMS.
Com base nesses registros, o CNJ determinou, em agosto de 2024, o afastamento dos desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, além da abertura de investigações disciplinares e quebra de sigilos bancários e fiscais de servidores do TJMT.
Essas ações integram a Operação Mineração de Ouro, iniciada em junho de 2021, que apura lavagem de dinheiro, extorsão, falsificação e contratação de funcionários fantasmas. O inquérito teve origem na Operação Lama Asfáltica, que investigava enriquecimento ilícito e venda de sentenças.
Durante as investigações, surgiram indícios de crimes envolvendo conselheiros do TCE-MS, como Waldir Neves, Osmar Jeronymo e Ronaldo Chadid, incluindo desvio de verbas públicas e superfaturamento de contratos com a empresa Dataeasy, em Brasília. Em uma das fases da operação, agentes apreenderam mais de R$ 1,6 milhão em espécie, além de moedas estrangeiras.
A terceira fase da operação, chamada Casa de Ouro, focou em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, incluindo a compra de imóvel de alto padrão em nome de terceiros, mas que teria como real proprietário Waldir Neves.
As investigações seguem em andamento e continuam sob análise da Polícia Federal, do STF, do STJ e do CNJ.
A assessoria de Rodrigo Pacheco informou que o senador não comentará o caso.