Governo da Venezuela é acusado de prender mais de 120 menores em protestos
Acusações de terrorismo são direcionadas a jovens detidos após manifestações contra o governo de Nicolás Maduro; famílias relatam abusos e condições desumanas
Por Plox
28/08/2024 13h38 - Atualizado há 7 meses
O governo da Venezuela enfrenta denúncias graves de ter detido ao menos 120 menores de idade durante uma série de protestos contra o resultado das eleições presidenciais deste ano. De acordo com o jornal norte-americano The Washington Post, as forças de segurança venezuelanas acusaram esses jovens de terrorismo, intensificando as tensões políticas no país. As manifestações ocorreram após a oposição alegar que o presidente Nicolás Maduro, reeleito recentemente, venceu por meio de fraude eleitoral.

Condições de detenção
Conforme apurado pelo The Washington Post, 100 dos menores detidos, alguns com apenas 13 anos, permanecem sob custódia do Estado. Cinco famílias entrevistadas pelo jornal compartilharam relatos preocupantes sobre o tratamento dos adolescentes em instalações juvenis com rígido controle militar. Os jovens teriam sofrido agressões físicas, além de terem suas visitas e alimentos restritos como forma de punição. "Meus amigos lá, todos ficaram doentes por causa da comida. Eles passaram noites vomitando", relatou um dos adolescentes. "Os seguranças ficavam dizendo que não havia médicos ou remédios."
Relatos de violência
Uma das famílias entrevistadas, que pediu anonimato, descreveu a ação das forças de segurança. Segundo a mãe e seu filho, por volta da 1h, 17 agentes de contrainteligência militar arrombaram a porta de sua casa e invadiram o local. A mulher, de 40 anos, e seu filho de 5 anos tiveram rifles apontados contra si, enquanto seu filho de 15 anos foi empurrado contra a parede, algemado e agredido até revelar o nome de um amigo. Em seguida, o adolescente foi levado em uma van e ficou detido por 20 dias, dos quais sete sem contato com a família.
Comparações históricas e impacto nas comunidades
O número de menores detidos na Venezuela já supera os registros de prisões de crianças durante outros regimes autoritários na América Latina, como a ditadura militar argentina, que prendeu 151 menores em sete anos, e o regime chileno, que prendeu 956 menores entre 1974 e 1990. Segundo o The Washington Post, a maioria desses jovens vem de bairros de classe trabalhadora, que tradicionalmente apoiavam Hugo Chávez e Nicolás Maduro, mas que agora parecem ter mudado de lado, passando a apoiar a oposição.
Falta de acesso a advogados e pressão sobre ativistas
A organização de assistência jurídica Foro Penal informou que nenhum dos jovens teve acesso a advogados particulares e que muitos ficaram detidos por pelo menos uma semana antes de poderem contatar suas famílias. Alfredo Romero, presidente da Foro Penal, afirmou: "Antes, pelo menos tínhamos acesso às pessoas presas e estaríamos presentes se houvesse alguma denúncia de tortura. Todo mundo tem medo de falar." Luis Armando Betancourt, advogado no estado de Carabobo, onde ao menos 23 adolescentes foram presos, destacou que há uma ação direcionada contra ativistas de direitos humanos, dificultando ainda mais o acesso legal aos detidos, mesmo com a autorização das famílias.
Planos de fuga do país
As famílias dos jovens entrevistadas pelo The Washington Post expressaram planos de deixar a Venezuela assim que seus filhos forem libertados, em busca de segurança e melhores condições de vida fora do país.