Síndrome da autocervejaria: condição rara faz corpo produzir álcool e provoca sintomas de embriaguez

A síndrome da autocervejaria, ou síndrome da fermentação intestinal, é uma condição rara onde o próprio corpo é capaz de produzir álcool no intestino. Este fenômeno ocorre principalmente quando o paciente consome alimentos ricos em carboidratos, levando o sistema digestivo a produzir etanol, causando sintomas semelhantes aos da embriaguez, mesmo sem ingestão de bebidas alcoólicas.

Causas e fatores de risco

De acordo com especialistas, além da ingestão de carboidratos, o uso de antibióticos e a presença de doenças pré-existentes podem perturbar o ecossistema intestinal e desencadear a síndrome. Thicianie Fauve, gastroenterologista e coordenadora da área de gastroenterologia do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, aponta que essa condição é mais comum em pessoas com problemas intestinais já existentes. "Caracteriza-se pela proliferação generalizada de microrganismos intestinais, o que, por sua vez, leva à produção endógena de álcool", explica Fauve. Esse processo endógeno é típico de diversas substâncias que o corpo humano produz, como hormônios.

Sintomas e diagnóstico

Os sintomas da síndrome da autocervejaria são bastante similares aos de intoxicação por álcool e podem variar de leves a graves, dependendo da quantidade de álcool produzido no intestino. Entre os sintomas mais comuns estão embriaguez inexplicável, tontura, náuseas, vômito, fadiga, distúrbios do sono e problemas de memória. Segundo Fauve, "a maioria das pessoas consegue metabolizar o álcool normalmente, sem experimentar esses sintomas."

Apesar de ser uma condição rara, o diagnóstico deve ser considerado para pacientes que apresentem sinais de intoxicação alcoólica sem ter consumido bebidas alcoólicas, como indicado por um estudo de caso publicado na revista científica BMJ Open Gastroenterology.

Casos e consequências legais

A síndrome da autocervejaria pode levar a situações inusitadas, incluindo implicações legais. Um exemplo ocorreu na Bélgica, onde um homem foi absolvido da acusação de dirigir embriagado após três médicos confirmarem que ele sofria da síndrome. Esse caso ilustra como os sintomas da condição podem ser confundidos com o consumo de álcool, levando a mal-entendidos graves.

Tratamento e mudanças no estilo de vida

O tratamento da síndrome da autocervejaria envolve principalmente mudanças no estilo de vida, como a restrição de alimentos ricos em carboidratos e açúcares, que alimentam a fermentação excessiva no intestino. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos para controlar os sintomas e a proliferação de leveduras no trato gastrointestinal, responsáveis pela produção de álcool. Relatos na literatura médica, como o estudo publicado na BMJ Open Gastroenterology, mostram que mudanças na dieta podem levar a melhoras significativas, sem necessidade de intervenção medicamentosa.

Fauve ressalta a importância de uma alimentação equilibrada e moderação no consumo de álcool para prevenir o desenvolvimento dessa e de outras condições de saúde. "É importante lembrar que a moderação no consumo de álcool e uma alimentação equilibrada são fundamentais para manter a saúde do organismo e prevenir o desenvolvimento de condições como a síndrome da autocervejaria", conclui a especialista.