Nova linhagem viral causa surto de febre Oropouche
Súbito crescimento de casos da doença gera alerta epidemiológico no Amazonas
Por Plox
28/09/2024 14h22 - Atualizado há 4 meses
Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou que o surto de febre Oropouche, ocorrido em 2024, foi causado por uma nova linhagem viral originada na Região Amazônica. O estudo, que foi revisado por pares, foi aceito para publicação na revista científica Nature Medicine. Uma versão preliminar já foi divulgada para compartilhamento antecipado dos resultados, mas ainda passará por revisões antes de sua publicação final.
O rápido aumento da transmissão nos primeiros meses de 2024 levou a um alerta epidemiológico no Amazonas. O avanço da doença atingiu todas as regiões do Brasil, embora as autoridades de saúde já monitorassem de perto os dados dos anos anteriores. Entre agosto de 2022 e fevereiro de 2024, mais de 6 mil casos foram registrados em cerca de 140 municípios da Região Norte. O estudo da Fiocruz sequenciou o genoma do vírus em 382 casos de quatro estados: Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. A análise confirmou que a nova linhagem, denominada OROV BR-2015-2024, foi responsável pelas infecções.
Origem e evolução da nova linhagem viral
Com base em suas características genéticas, os pesquisadores estimam que o surgimento da nova linhagem ocorreu entre 2010 e 2014, no Amazonas. Esta linhagem é resultado de um rearranjo genético entre cepas que circulavam no Brasil e outras presentes no Peru, Colômbia e Equador. Desde então, a linhagem OROV BR-2015-2024 teria se espalhado silenciosamente até culminar no surto recente.
Rearranjos genéticos acontecem quando um ser humano ou animal é infectado por duas linhagens diferentes simultaneamente, levando à combinação de elementos genéticos durante a replicação viral. Segundo nota da Fiocruz, a nova linhagem apresenta alterações na superfície da partícula viral que facilitam o escape de anticorpos. Pessoas infectadas anteriormente podem ter proteção reduzida contra esta nova linhagem, e estudos preliminares sugerem que ela se replica mais rapidamente nas células do que a primeira linhagem do vírus isolada no Brasil, nos anos 1960.
Transmissão, sintomas e histórico da doença
A febre Oropouche é transmitida por arbovírus e não possui tratamento específico, mas recomenda-se repouso e acompanhamento médico. Os sintomas, semelhantes aos da dengue, incluem febre, dor de cabeça, dores nas costas e articulações, tontura, dores oculares, erupções cutâneas, náuseas e vômitos, geralmente durando de 2 a 7 dias. Em alguns casos, há também o risco de encefalite.
A transmissão ocorre principalmente pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido como maruim, que se prolifera em ambientes úmidos, como áreas próximas a mangues e rios, mas também pode estar presente em ambientes urbanos com água e matéria orgânica. O mosquito Culex quinquefasciatus, ou pernilongo, também pode atuar como vetor ocasionalmente. Desde a década de 1970, surtos esporádicos da doença têm sido registrados na Região Amazônica, mas a recente disseminação levou a casos em todas as regiões do país. Em julho de 2024, foram registradas na Bahia as primeiras mortes pela doença em todo o mundo.
Mudanças climáticas e disseminação do vírus
Os pesquisadores apontam que surtos e epidemias são causados por múltiplos fatores, incluindo mudanças climáticas. As alterações extremas na Amazônia, combinadas com desmatamento e degradação ambiental, podem modificar o comportamento do mosquito transmissor, aumentando o risco de infecção. Essa hipótese pode explicar por que a nova linhagem permaneceu por quase 10 anos sem provocar um grande surto.
O estudo também confirmou o padrão sazonal da febre Oropouche, com alta transmissão durante as estações chuvosas e baixa, mas persistente, nas secas, devido à maior proliferação do vetor durante as chuvas. Além disso, a disseminação da doença foi atribuída tanto ao deslocamento dos mosquitos vetores quanto ao movimento de pessoas infectadas.