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HQ 'Doce Amargo' retrata tragédia de Mariana e impacto em Governador Valadares

Quadrinista João Marcos transforma vivências familiares e memórias coletivas da tragédia do Rio Doce em obra publicada pela Editora Nemo, destacando solidariedade e a importância de preservar a história do desastre.

28/10/2025 às 10:51 por Redação Plox

O desastre causado pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015, marcou de maneira indelével o Brasil. Cerca de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, liberados pela mineradora Samarco, percorreram 660 quilômetros pelo Rio Doce, destruindo cidades, comunidades inteiras e soterrando um ecossistema até alcançar o Atlântico, no Espírito Santo.

Obra apresenta a narrativa em quadrinhos para relatar a história

Obra apresenta a narrativa em quadrinhos para relatar a história

Foto: Divulgação / Editora Nemo.


Impactos em Governador Valadares

Entre os 38 municípios atingidos, Governador Valadares, no leste de Minas Gerais, sentiu o choque mais de perto. Com quase 280 mil habitantes e dependente exclusivamente do Rio Doce para o abastecimento, a cidade viu as torneiras secarem, a rotina ser interrompida e a incerteza tomar conta do cotidiano. A ausência de água desencadeou uma corrida por galões, filas extensas, rumores e o aumento abusivo no preço da água mineral — inclusive com a comercialização de galões supostamente lacrados contendo água imprópria para consumo.

HQ conta a história sob perspectiva pessoal e coletiva

No meio desse cenário, o professor universitário e quadrinista João Marcos Mendonça transformou a experiência vivida com a família em quadrinhos. Surgiu assim Doce Amargo, novo lançamento da Editora Nemo, que mistura memórias pessoais e testemunho coletivo sobre o primeiro ano após o desastre.

A HQ destaca o medo persistente pela insegurança da água, a sensação de abandono diante de promessas não cumpridas e momentos de solidariedade entre vizinhos. Pequenos gestos do dia a dia, como tomar banho ou buscar água, ganharam novos contornos diante do caos instaurado.

Arte e memória reconstroem a tragédia

João Marcos busca uma abordagem humanizada da tragédia, ilustrando o impacto vivido por pessoas comuns. Segundo ele, contar essa história é também um caminho para impedir o esquecimento dos acontecimentos, especialmente agora, quando a tragédia se aproxima da marca de dez anos.

Me interessou contar essa história sob a perspectiva humanizada, do ponto de vista ordinário. De pessoas que tiveram suas rotinas impactadas em situações absolutamente comuns, como tomar água ou um banho. E também, principalmente, para que essa história não fosse esquecida – pois isso também acontece com o passar dos anos. Relembrar esta tragédia agora que ela completa 10 anos é um passo importante nesse sentido. – João Marcos Mendonça

A sensibilidade do traço e a precisão da narrativa transformam Doce Amargo em um testemunho gráfico que denuncia e preserva a memória coletiva. O prefácio, assinado pelo professor Hernani Santana, relembra que a HQ reconfigura o olhar sobre a tragédia, distanciando-se das versões oficiais.

As cores de Marianne Gusmão contribuem para traduzir os sentimentos intensos e os impactos emocionais vividos, reforçando o drama e a humanidade presentes na história.

Trajetória de João Marcos Mendonça

Nascido em Ipatinga (MG), João Marcos é mestre em Artes Visuais pela UFMG e leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo na Univale. Tem no currículo mais de 15 livros de quadrinhos para crianças, reconhecidos e premiados, entre eles a Cátedra 10 UNESCO de Leitura (PUC-Rio).

Em 2024, o autor foi um dos convidados do Batman Day — evento que celebrou os 85 anos do personagem da DC Comics. João Marcos também é pesquisador sobre uso das HQs na educação, trabalho que lhe rendeu o Troféu HQ Mix e diversos artigos, além de ministrar palestras e oficinas em escolas e eventos nacionais e internacionais.

Além disso, assina a série de tiras Escola de Passarinhos, publicada no Instagram, que aborda o universo da educação e inspirou uma startup de mídia.

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