Economia

Fechamento da Usina Jatiboca causa crise e demissões em Urucânia

Mais de mil funcionários foram dispensados com o encerramento das atividades da usina, afetando produtores, municípios e provocando protestos pelo pagamento parcelado das verbas rescisórias.

28/10/2025 às 07:29 por Redação Plox

O anúncio do fechamento da Usina Jatiboca provocou forte apreensão entre moradores de Urucânia, na Zona da Mata mineira. A fábrica, com operações iniciadas ainda no século passado, comunicou internamente a dispensa de mais de mil funcionários e ameaça diretamente a economia de toda a região.

As operações da companhia englobam a fabricação de etanol, que começou a ser realizada na década de 1980

As operações da companhia englobam a fabricação de etanol, que começou a ser realizada na década de 1980

Foto: crédito: Reprodução/Usina Jatiboca


Impacto na economia local e reação dos trabalhadores

A paralisação das atividades foi confirmada em mensagem aos funcionários no último dia 22 de outubro, informando o encerramento operacional até 10 de novembro. A notícia de que os acertos rescisórios seriam pagos de forma parcelada motivou protestos na portaria da empresa.

Com cerca de 1,1 mil empregados durante a entressafra, chegando a quase 2 mil na safra, a usina é peça-chave na geração direta e indireta de renda em Urucânia e municípios vizinhos. Dados da empresa indicam a produção anual de até 1 milhão de sacas de açúcar e 32 milhões de litros de álcool, movimentando ampla cadeia produtiva local. Aproximadamente 20% da cana-de-açúcar utilizada vem de cerca de 400 fornecedores regionais.

Tradicional produtora e referência agrícola

Além do açúcar e álcool, a Usina Jatiboca atua na cogeração de energia a partir do bagaço da cana e investe em tecnologia no cultivo de mais de 15 variedades do produto, mantendo o papel central na economia rural da região.

A direção da companhia justificou às entidades sindicais dificuldades no fornecimento de matéria-prima e falta de mão de obra rural como motivos para o fechamento. Diante do quadro, trabalhadores, representantes da empresa e autoridades do Legislativo e Executivo locais reuniram-se na busca de alternativas, acompanhados do Superintendente Regional do Trabalho em Minas Gerais.

Preocupação e relatos dos produtores

O anúncio do fechamento impactou especialmente os pequenos produtores da região, muitos deles com dificuldades para receber pelos fornecimentos recentes. Salvador Batista Campos, trabalhador rural há décadas, narrou a inadimplência nos pagamentos referentes à produção dos últimos meses:

Desde maio já desconfiávamos que algo não estava certo. A usina vem quebrando devagar, e agora estamos sem receber pelo que vendemos. A cana é nosso principal sustento. Sem o pagamento, ficamos sem ter o que fazer com a produção. – Salvador Batista Campos

Campos explicou que, embora tenha buscado alternativas para vender parte da produção de forma independente, o cenário é desolador para quem depende exclusivamente da cana para sobreviver. Outro fornecedor, sob anonimato por receio de retaliações, compartilhou situação semelhante, destacando dívidas acumuladas com financiamentos agrícolas e incerteza sobre o futuro.

A preocupação se estende também aos trabalhadores veteranos. José Afonso, funcionário há 40 anos, relatou ter recebido a notícia das demissões por meio do sindicato. O temor pela perda de benefícios e empregos se espalhou rapidamente, atingindo centenas de famílias que dependem diretamente da empresa.

Sindicato denuncia falta de transparência e busca negociação

José Luiz da Anunciação, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Urucânia (STRU), afirmou que a decisão de fechamento havia sido tomada meses antes de qualquer comunicação oficial ao sindicato. Segundo ele, as tratativas envolveram tentativas da empresa de parcelar as verbas rescisórias em até dez vezes, o que gerou resistência entre os trabalhadores.

Todos os trabalhadores precisavam estar cientes. Acionamos o Ministério Público e até o prefeito se envolveu. Foi um encaminhamento coletivo para proteger os direitos dos funcionários. – José Luiz da Anunciação

O sindicato montou comissão de representantes para negociar, com apoio do Ministério Público e autoridades locais. O encolhimento da atividade compromete salários, aposentadorias e toda a produção agrícola instalada.

Justiça intervém e suspende demissões em massa

Diante das denúncias de dispensas coletivas, a Justiça do Trabalho determinou a suspensão imediata das demissões na Usina Jatiboca. Em decisão liminar, ficou estabelecido que a empresa deve manter o pagamento de salários e encargos enquanto durarem as negociações com o sindicato.

O juiz também proibiu a venda, arrendamento ou remoção de máquinas e equipamentos, visando garantir a continuidade da atividade industrial na cidade. Em caso de descumprimento, a liminar prevê multa de R$ 100 mil por trabalhador dispensado.

Ainda não há definição sobre os rumos da usina, enquanto cresce a incerteza sobre o futuro de milhares de trabalhadores, pequenos produtores e da economia regional.

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