Dólar atinge maior cotação histórica e reforça preocupação com política econômica no governo Lula

A instabilidade na cotação da moeda americana acontece no dia do pronunciamento em rede nacional do ministro da Fazenda Fernando Haddad

Por Plox

28/11/2024 08h40 - Atualizado há 27 dias

Nesta quarta-feira (27), o dólar fechou cotado a R$ 5,9135, marcando o maior valor nominal da história do Plano Real. O movimento ocorreu em meio a um cenário de instabilidade econômica interna, impulsionado pelo anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil. A medida gerou dúvidas sobre a capacidade do governo de equilibrar suas contas públicas.

Marcello Casal Jr. | Agência Brasil

Medida de isenção intensifica desconfiança

A proposta, que implica renúncia fiscal, somou-se ao atraso no anúncio do plano fiscal, inicialmente prometido para após as eleições municipais, e gerou um impacto negativo entre investidores. A economista-chefe da Buysidebrazil, Andréa Damico, destacou que, enquanto outras moedas emergentes se valorizaram diante do dólar, o real perdeu força. “Essa medida tira o brilho do pacote fiscal, já ofuscado pela demora”, avaliou.

A falta de clareza sobre como o governo pretende cumprir as metas do arcabouço fiscal e conter a crescente relação dívida/PIB tem sido motivo de preocupação. A avaliação de analistas é que a renúncia fiscal, sem cortes proporcionais nas despesas, contradiz a busca por maior estabilidade econômica.

Reações do mercado

Durante o pregão, o dólar ultrapassou a barreira técnica de R$ 5,90, alcançando o pico de R$ 5,9289. O valor final de fechamento superou o recorde anterior, registrado em maio de 2020, de R$ 5,9008. Esse movimento ocorreu em um dia em que, no mercado internacional, o dólar recuou frente a outras moedas importantes.

Para Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o anúncio simultâneo de medidas de corte de gastos e renúncia de receitas gera sinais contraditórios ao mercado. “Reduzir arrecadação enquanto o foco deveria ser cortar despesas é uma sinalização preocupante”, afirmou.

Pacote de cortes será anunciado nesta quinta-feira

O plano fiscal, que será apresentado nesta quinta-feira (28), prevê mudanças em áreas como Benefício de Prestação Continuada (BPC), abono salarial, reajustes do salário mínimo e benefícios previdenciários de militares. Também serão incluídas medidas para limitar “supersalários” no setor público e revisar o Vale Gás.

A decisão pela isenção do IR enfrentou resistência dentro do próprio governo. Haddad e o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, tentaram dissuadir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da proposta, alertando que ela poderia ofuscar o impacto do pacote fiscal. Ainda assim, Lula optou por avançar com a medida.

O economista André Galhardo, da Remessa Online, apontou que o cenário reflete a preocupação com a possível priorização de medidas populistas, em detrimento de ajustes fiscais estruturais. “Há um receio de que o governo se mostre tímido no corte de despesas e busque manter apoio popular via consumo”, observou.

Destaques