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Adolescência do cérebro pode ir até os 30 anos, aponta novo estudo

Pesquisa internacional liderada por Cambridge identifica cinco fases de desenvolvimento e envelhecimento do cérebro, com uma longa adolescência entre os 9 e 32 anos e marcos claros aos 9, 32, 66 e 83 anos

28/11/2025 às 10:29 por Redação Plox

O cérebro humano passa por cinco fases bem definidas ao longo da vida, com momentos de virada em torno dos 9, 32, 66 e 83 anos, de acordo com um novo estudo internacional.

Cerca de 4 mil pessoas, com idades de até 90 anos, foram submetidas a exames que mapearam as conexões entre suas células cerebrais. A partir desse amplo conjunto de dados, cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino


Unido, identificaram padrões marcantes de transformação estrutural e funcional ao longo do tempo.

Análises do cérebro de milhares de pessoas mostram transformações profundas ao longo da vida, do nascimento até a morte

Análises do cérebro de milhares de pessoas mostram transformações profundas ao longo da vida, do nascimento até a morte

Foto: Reprodução / Agência Brasil.



Um dos achados que mais chamam atenção é que, segundo os pesquisadores, o cérebro permanece em uma fase tipicamente adolescente até o início dos 30 anos, quando atinge um pico de eficiência em suas redes neurais. A pesquisa sugere ainda que essas mudanças ajudam a explicar por que o risco de transtornos mentais e de demência varia tanto conforme a idade.

Cinco fases cerebrais ao longo da vida

Embora o cérebro esteja em constante adaptação a novos conhecimentos e experiências, o estudo mostra que esse processo não é linear. Em vez de uma mudança contínua e uniforme do nascimento à velhice, surgem cinco grandes etapas:


Infância (do nascimento aos 9 anos) – É o período de crescimento mais rápido do cérebro, marcado pela formação intensa de sinapses (conexões entre neurônios) e, em seguida, por um afinamento dessas ligações em excesso. Nessa fase, o funcionamento é menos eficiente: o cérebro se comporta como alguém que passeia sem rumo, explorando caminhos diversos, em vez de seguir trajetos diretos entre dois pontos.


Adolescência (dos 9 aos 32 anos) – A partir dos 9 anos, ocorre uma mudança brusca. As conexões neurais passam por um processo intenso de ganho de eficiência, descrito pelos autores como uma das transformações mais profundas entre as fases cerebrais. Esse também é o período de maior risco para o surgimento de transtornos mentais, justamente quando a organização do cérebro se torna mais sofisticada.


A adolescência começa próxima à puberdade, mas as evidências indicam que termina bem mais tarde do que se imaginava. Antes se acreditava que se restringia à juventude; depois, que avançava pelos 20 e poucos anos. Agora, o novo estudo aponta que essa “adolescência do cérebro” se estende até o começo dos 30. É ainda a única fase em que a rede de neurônios se torna progressivamente mais eficiente.


Vida adulta (dos 32 aos 66 anos) – Após esse pico inicial, o cérebro entra em um longo período de relativa estabilidade. É a fase mais extensa, durando cerca de três décadas. As mudanças desaceleram em comparação às etapas anteriores, e começa uma leve queda na eficiência das conexões. Os pesquisadores observam que isso coincide com um aparente platô em medidas de inteligência e traços de personalidade, que tendem a se estabilizar nessa fase da vida.


Envelhecimento inicial (dos 66 aos 83 anos) – A partir dos 66 anos, o cérebro passa por alterações nos padrões de conectividade, mas sem uma queda abrupta. Em vez de atuar como um sistema único, altamente integrado, suas redes começam a se organizar em regiões mais independentes, que funcionam de forma relativamente autônoma. Essa etapa coincide com a idade em que costumam surgir sinais de demência, hipertensão e outras condições que impactam a saúde cerebral.


Envelhecimento avançado (a partir dos 83 anos) – Na faixa dos 83 anos, inicia-se a fase final mapeada pelo estudo. Os cientistas dispõem de menos dados sobre esse grupo, já que é mais difícil encontrar cérebros saudáveis para escaneamento nessa idade. Ainda assim, as transformações seguem a mesma lógica do envelhecimento inicial, só que de maneira mais acentuada.

Adolescência até os 30 e riscos à saúde mental

Segundo os autores, o fato de o cérebro manter características de “adolescência” dos 9 aos 32 anos ajuda a entender por que tantos transtornos mentais despontam entre o fim da infância e o início da vida adulta. É justamente nesse intervalo que o cérebro passa por sua grande reorganização em busca de eficiência máxima.


Estudo da Universidade de Cambridge aponta que o cérebro continua em fase adolescente até o começo dos 30 anos

Estudo da Universidade de Cambridge aponta que o cérebro continua em fase adolescente até o começo dos 30 anos

Foto: Reprodução / Agência Brasil.



A identificação precisa dos marcos etários – 9, 32, 66 e 83 anos – só foi possível graças ao grande volume de exames reunidos e analisados, em um trabalho publicado na revista científica Nature Communications. Os cientistas destacam a surpreendente coerência entre esses momentos de virada e marcos importantes da vida, como a puberdade, o aparecimento mais frequente de problemas de saúde na velhice e mudanças sociais típicas do início dos 30 anos, como maior responsabilidade profissional e parentalidade.

Conectividade, cognição e comportamento

O estudo concentrou-se em cérebros considerados saudáveis e não avaliou diferenças entre homens e mulheres, o que abre novas questões para pesquisas futuras, como os impactos da menopausa nas redes neurais.

Muitos transtornos do neurodesenvolvimento, de saúde mental e neurológicos estão ligados ao modo como o cérebro é conectado. Diferenças nessa conectividade influenciam atenção, linguagem, memória e vários tipos de comportamento.

Duncan Astle

Especialistas que analisaram os resultados afirmam que eles se encaixam no entendimento atual sobre o envelhecimento cerebral e reforçam a noção de que o cérebro continua a mudar de forma significativa ao longo de toda a vida. Ao mesmo tempo, destacam que nem todas as pessoas passarão por essas fases exatamente nas mesmas idades, já que há grande variabilidade individual.

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