Economia

Déficit de estatais federais chega a R$ 6,35 bi e pressiona orçamento

Rombo entre janeiro e outubro de 2025 leva governo a bloquear R$ 3 bilhões; crise dos Correios e pedido de aporte para Angra 3 elevam preocupação fiscal, apesar de balanço positivo da maioria das estatais

28/11/2025 às 12:33 por Redação Plox

O déficit das empresas estatais federais somou R$ 6,35 bilhões de janeiro a outubro deste ano, informou o Banco Central nesta sexta-feira (28). O resultado, puxado principalmente pela crise dos Correios, já se aproxima do recorde negativo registrado em 2024.


Esse valor representa a diferença entre o gasto total das estatais e a receita gerada no período. Na série histórica do Banco Central, iniciada em 2002, o desempenho de 2024 é, até agora, o pior já registrado – e o rombo parcial de 2025 já está muito próximo daquele patamar.


Dados foram divulgados nesta sexta-feira (28) pelo Banco Central. Os Correios enfrentam uma grave crise fiscal neste ano e o governo estuda alternativas, enquanto a situação da Eletronuclear também gera preocupação

Dados foram divulgados nesta sexta-feira (28) pelo Banco Central. Os Correios enfrentam uma grave crise fiscal neste ano e o governo estuda alternativas, enquanto a situação da Eletronuclear também gera preocupação

Foto: Reprodução / Agência Brasil.



O levantamento do BC não inclui Petrobras, Eletrobras nem instituições financeiras públicas. Entram na conta empresas como Correios, Emgepron, Hemobrás, Casa da Moeda, Infraero, Serpro, Dataprev e Emgea.


O cálculo do Banco Central considera apenas a variação da dívida, conceito usado em análises fiscais internacionais. Já o governo trabalha com o chamado resultado “acima da linha”, que corresponde à diferença entre receitas e despesas.

Impacto nas contas públicas

O rombo das estatais já está pressionando o Orçamento federal. Como o déficit superou o limite autorizado, o governo foi obrigado a bloquear R$ 3 bilhões neste mês — recursos que poderiam ser destinados a outras áreas.

Crise dos Correios agrava déficit

O resultado negativo das estatais foi fortemente agravado pelos Correios, que atravessam uma grave crise fiscal em 2025, com forte deterioração do desempenho financeiro.

A empresa detém monopólio em serviços como recebimento, transporte e entrega de cartões-postais e correspondências, além da fabricação de selos.


Em 2024, o déficit dos Correios superou R$ 2,5 bilhões. No primeiro semestre de 2025, o prejuízo passou de R$ 4 bilhões. Estimativas internas indicam que o rombo pode chegar a R$ 10 bilhões até o fim deste ano e alcançar R$ 23 bilhões em 2026, se nenhuma medida for adotada.


Em entrevista à GloboNews nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo não estuda privatizar a estatal, ao contrário do que defendia a gestão anterior.

Não vejo um debate dentro do governo sobre privatizar Correios. Não vejo isso acontecer da parte de nenhum ministro que tenha proposto isso. Inclusive porque fizemos levantamento mais recente sobre a situação dos serviços postais no mundo. E é muito difícil um Estado nacional abrir mão de serviços postais, até porque parte dos quais são mesmo subsidiados para garantir a universalização”, disse Haddad, na ocasião.

Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews

Após 12 trimestres consecutivos de prejuízo, a nova gestão dos Correios aprovou neste mês um plano de reestruturação para garantir liquidez e manter o papel da estatal como operador nacional de logística.

O plano está estruturado em três eixos: recuperação financeira, consolidação do modelo e crescimento estratégico. A agenda prevê, entre outras medidas, a captação de R$ 20 bilhões por meio de um consórcio de bancos.

Impasse em torno da Eletronuclear e de Angra 3

Além dos Correios, a situação da Eletronuclear também preocupa o governo. A empresa opera as usinas Angra 1 e Angra 2 e mantém a estrutura de Angra 3, obra paralisada há dez anos, e pediu um aporte de R$ 1,4 bilhão ao Tesouro Nacional.


Especialistas ouvidos pelo Jornal Nacional apontam que apenas a manutenção dos equipamentos e da estrutura de Angra 3, sem definição sobre o futuro do projeto, custa cerca de R$ 1 bilhão por ano.

Estudos do BNDES indicam que concluir Angra 3 exigiria cerca de R$ 24 bilhões. Abandonar o projeto também teria custo elevado, estimado entre R$ 22 bilhões e R$ 26 bilhões.


Nesta semana, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou a jornalistas que a situação da Eletronuclear está “caminhando para uma decisão”, mas não antecipou qual será o encaminhamento do governo.


No Relatório de Riscos Fiscais da União de 2025, o Tesouro Nacional lista outras estatais que podem demandar aportes de recursos e, com isso, pressionar ainda mais o déficit das contas públicas. Além da Eletronuclear, o documento cita sinais preocupantes na Casa da Moeda, na Infraero e nas companhias docas de Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Rio de Janeiro.

Ministério da Gestão relativiza resultado fiscal

Procurado, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos informou que o déficit no resultado primário das estatais não deve ser automaticamente interpretado como prejuízo operacional.


Segundo a pasta, das 20 empresas incluídas na estatística fiscal, 15 registram lucro em 2025. Destas, 11 apresentam simultaneamente lucro e déficit fiscal, e quatro combinam lucro e superávit. Nessas situações, o déficit decorre, em grande parte, de aumento de investimentos. No total, essas 15 estatais lucraram R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre de 2025. Apenas cinco empresas apresentam, ao mesmo tempo, déficit fiscal e prejuízo.


O Ministério afirma ainda que, na maioria das estatais, o resultado negativo está ligado sobretudo ao aumento de investimentos e ao pagamento de dividendos.


De janeiro a setembro de 2025, as 20 estatais consideradas pelo Banco Central investiram R$ 3,2 bilhões e desembolsaram R$ 1,74 bilhão em dividendos e participações em lucros. Esses valores entram na estatística primária como despesa e podem gerar déficit, mesmo quando são bancados com recursos de caixa ou lucros de 2024 e de anos anteriores.

Lucros elevados quando se inclui Petrobras e bancos públicos

Considerando também a Petrobras e os bancos públicos, o Ministério da Gestão destaca que o conjunto das estatais tem apresentado resultados operacionais expressivos.


Entre as 44 estatais existentes, 39 registraram faturamento de R$ 655,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, alta de 3,1% em relação ao mesmo período de 2024. O lucro dessas empresas foi de R$ 92,4 bilhões, um crescimento de 54,4% na comparação anual.


Na avaliação da pasta, esse desempenho precisa ser levado em conta na análise da saúde financeira do setor estatal como um todo.

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