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Economia
BC sob pressão no STF e TCU após liquidação do Banco Master
Decisão de liquidar o Banco Master por supostos créditos falsos de R$ 12 bilhões leva atuação do Banco Central a escrutínio no STF e no TCU, com acareação inédita marcada por Dias Toffoli
28/12/2025 às 10:49por Redação Plox
28/12/2025 às 10:49
— por Redação Plox
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Integrantes da diretoria do Banco Central avaliam que estão sob forte pressão desde a decretação da liquidação do Banco Master e discutem, nos bastidores, os próximos passos diante da reação de outras autoridades ao processo.
BC avalia reação após questionamentos de outras autoridades
Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil
A autarquia se prepara para um embate jurídico em torno das decisões tomadas na fiscalização do banco e já trabalha com a hipótese de tentativas de enquadrar o próprio BC como alvo de investigação. Mesmo assim, dirigentes demonstram segurança ao afirmar que identificaram números do Master que apontariam para uma fraude bilionária nos balanços.
Segundo investigadores, o banco teria produzido cerca de R$ 12 bilhões em créditos falsos, posteriormente repassados ao BRB (Banco de Brasília). Procurados por meio de suas assessorias de imprensa, Banco Central e Master não se manifestaram.
Liquidação após meses de análise e reuniões
O Banco Central decretou a liquidação do Banco Master em 18 de novembro, após identificar problemas de liquidez e “graves violações” às normas do sistema financeiro. As irregularidades se concentravam em ativos da carteira de crédito, considerados, na prática, inexistentes.
A análise do BC levou meses e incluiu diversas reuniões com representantes do Master. A liquidação foi anunciada um dia depois de encontro entre a autarquia e Vorcaro, controlador do banco, que informou que viajaria ao exterior para fechar a venda da instituição para a Fictor — empresa pouco conhecida no setor — em conjunto com investidores dos Emirados Árabes, cuja identidade não foi revelada.
Vorcaro foi preso no mesmo dia da reunião com o BC, quando se preparava para embarcar em um jatinho. A defesa do banqueiro alega que a viagem teria como objetivo assinar o negócio com os investidores estrangeiros; para a PF, tratava-se de uma forma de facilitar sua fuga do país. Ele foi solto dez dias depois, por decisão de uma juíza federal.
BC mira STF diante de possível contestação
Mesmo convictos da correção da medida e dizendo reunir elementos que comprovariam sua atuação, diretores do Banco Central admitem a possibilidade de uma ofensiva para questionar a liquidação, com base no argumento de que haveria um plano de reestruturação pronto e apresentado, o que tornaria a intervenção extrema. As suspeitas de fraude levantadas pelos investigadores pesam contra essa tese.
O BC agora precisa explicar formalmente sua decisão ao STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro Dias Toffoli marcou para a próxima terça-feira (30) uma acareação entre envolvidos no caso, o que deve colocar a atuação da autarquia sob novo escrutínio.
Uma oitiva já era considerada provável desde 15 de dezembro, quando despacho de Toffoli determinou a tomada de depoimentos de investigados e de representantes do BC em até 30 dias. A diretoria da autarquia avaliava internamente que o compromisso poderia alterar planos de fim de ano.
Acareação inédita coloca regulação no centro
Na véspera de Natal, contudo, Toffoli surpreendeu ao optar por uma acareação — instrumento utilizado para confrontar versões divergentes após depoimentos prévios, o que causou estranheza entre juristas, já que o ministro não havia tomado declarações individuais anteriores.
A acareação reunirá Vorcaro; Ailton de Aquino, diretor de Fiscalização do BC; e Paulo Henrique Costa, ex-presidente do BRB, estatal do Distrito Federal que negociou a compra do Master, operação que foi barrada pelo BC.
O ministro determinou a acareação em um processo sigiloso sob sua relatoria no STF. Desde o início de dezembro, diligências e medidas ligadas à investigação sobre o Master e Vorcaro precisam do aval de Toffoli.
Conforme já divulgado, um dos focos da audiência será justamente a atuação do Banco Central. A sessão tem potencial para levar o órgão regulador ao centro das investigações, ao buscar esclarecer quando o BC tomou conhecimento das suspeitas sobre o Master, como atuou na fiscalização do mercado de títulos bancários e quem poderia ser responsabilizado por eventuais falhas. Até agora, não há indicação de que o ministro pretenda anular a liquidação.
Pressão política e questionamentos sobre ministros
O caso chegou ao STF após pedido da defesa de Vorcaro, feito depois que um envelope com documentos relativos a um negócio imobiliário envolvendo o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) foi apreendido durante busca e apreensão.
As investigações em torno do Master também expuseram a atuação de ministros do STF. No fim de novembro, no mesmo dia em que a Justiça determinou a soltura do banqueiro, Toffoli embarcou em um jatinho para Lima ao lado do advogado de um diretor do Master, para assistir a uma partida de futebol. Além disso, um escritório ligado à família de Moraes mantém contratos milionários com o banco.
TCU vê possível precipitação na liquidação
Em paralelo, o TCU (Tribunal de Contas da União) analisa a conduta do Banco Central no episódio. Em despacho, o ministro Jhonatan de Jesus determinou que a autarquia se explicasse e sugeriu que a decisão de liquidação pode ter sido extrema e precipitada, sem contestação de outros ministros do tribunal até o momento.
O documento aponta que a atuação do BC indica possível demora na busca por alternativas de mercado para o Master e avalia que a autoridade monetária poderia ter optado por soluções menos onerosas. O Banco Central já enviou sua resposta ao TCU.