Mais de uma década depois do crime, uma pergunta continua na mente dos brasileiros: por quê?
15 anos sem Isabela
Por Plox
29/03/2023 07h28 - Atualizado há mais de 1 ano
Sábado, 29 de março de 2008. Seria um fim de semana qualquer na vida dos brasileiros, não fosse um acontecimento que chamou a atenção do país. Economia, política, entretenimento, tudo ficou em segundo plano para que a população acolhesse a dor de uma mãe que perdeu a filha vítima de um crime que chocou o Brasil.
Isabella de Oliveira Nardoni, de cinco anos, passava o fim de semana com o pai, Alexandre Nardoni, a madrasta, Anna Carolina Jatobá, e os irmãos mais novos, no edifício London, na zona norte de São Paulo. No fim de tarde daquele sábado, a família saiu para fazer compras em um supermercado, e a partir daí, até hoje — 15 anos depois — tudo o que aconteceu deixou a população revoltada, comovida e com sede de justiça.
Às 23h49, um morador do condomínio acionou a emergência para avisar que havia uma criança caída no jardim do prédio.
Para justificar o fato de a menina estar sozinha no apartamento, Alexandre disse que teria descido primeiro do carro com Isabella, que supostamente dormia, em seu colo. E, ao deixá-la em seu quarto, retornou para a garagem e buscou os outros dois filhos, que também dormiam no veículo.
Nesse meio tempo entre ter deixado a menina na cama e voltado ao carro, Alexandre alegou que um bandido teria “invadido” o apartamento, cortado a tela de proteção e arremessado Isabella do sexto andar.
A história do pai da menina não fazia sentido algum. Percival de Souza, comentarista de segurança Cidade Alerta, relembra uma cena marcante:
Quando os delegados do caso viram o corpo de Isabella jogado no gramado do edifício, choraram
Percival de Souza
Segundo a perícia, Isabella foi agredida já dentro do carro com algum objeto pérfuro-contuso. Ao subir com a criança para o apartamento, houve uma tentativa — em vão — de estancar o sangue que escorria da testa da menina.
Ela foi jogada no chão da sala do apartamento, a ponto de ter o punho fraturado. Daí para a frente, uma série de agressões brutais e consumação do assassinato da menina transformaram o casal Nardoni em inimigo número um da população. Era — continua sendo e sempre será — inaceitável que um pai possa ter provocado ou participado de alguma forma da morte da própria filha.
Até hoje, Alexandre e Anna Carolina negam veementemente que tenham culpa na morte de Isabella. Em entrevista à imprensa, a madrasta fez questão de relembrar momentos específicos com a enteada, enquanto Alexandre corroborou com cada palavra da mulher.
E, se questionados hoje em dia, continuam a negar. Em 2010, o pai foi condenado a 31 anos e um mês de prisão, enquanto a madrasta recebeu pena de 28 anos e oito meses, em um julgamento que parou o Brasil com pedidos de justiça vindos dos quatro cantos do país.
Desde 2019, Alexandre cumpre pena em regime semiaberto e tem direito a cinco saídas temporárias por ano. Anna Carolina também saiu do regime fechado e tem permissão para trabalhar fora e retornar ao presídio. Ainda que pela repercussão do caso a dupla nunca mais volte a ter uma vida normal, as saídas temporárias — em pleno Dia das Crianças e Dia dos Pais — costumam gerar debate e causar revolta na população.
Qual é o sentido em um pai, preso pelo assassinato da própria filha, sair para “comemorar” a data? Alexandre tem mais dois filhos, o que também faz com que o caso seja mais absurdo: por quê? Simplesmente não houve motivo algum.
Alexandre Nardoni mostrou seu lado mais perverso, frio e maléfico. O comentarista de segurança da Record TV, Renato Lombardi, que cobriu o caso na época, relembra: “O porteiro contou uma história que me chamou a atenção e eu fiquei a investigação toda pensando”:
O Alexandre desceu depois de um tempo, se aproximou, olhou para ver se a menina respirava e não fez nada
Renato Lombardi
Reportagens, documentários, livros e outros materiais narram em detalhes o que teria acontecido na noite em que Isabella morreu, mas, a real curiosidade do público é saber como estão atualmente os envolvidos no caso.
A mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, retomou a vida, casou-se e já teve outros dois filhos.
Relembre a carta escrita por Ana Carolina para Isabella logo após o julgamento:
Em frente ao Edifício London, uma homenagem pelo artista Ricardo Capim permanece ao longo dos últimos 15 anos e será reforçada em 2023:
Alexandre e Anna Jatobá cumprem as penas atribuídas e continuam juntos, como se tivessem um pacto de cumplicidade. Ano após ano, durante a saída temporária, imagens do reencontro do casal circulam na mídia e surpreendem a população. Os dois nunca assumiram a culpa no assassinato, como já dito, o que torna a história ainda mais intrigante: teria o casal feito algum tipo de ‘promessa’ em que um jamais entregaria o outro?
No caso Richthofen, que também gerou revolta e indignação alguns anos antes da morte de Isabella, bastou uma pressão da polícia para que Suzane von Richthofen entregasse o ex-namorado e o ex-cunhado, Daniel e Cristian Cravinhos, e que a dupla também culpasse a jovem por orquestrar o assassinato dos pais. Sendo assim, a prova de que Alexandre e Anna Carolina Jatobá seguem juntos, tanto na vida amorosa como no lado mais sombrio de ser.
O Alexandre olhou no relógio e perguntou se alguém precisava de mais alguma coisa, porque ele queria ir para a casa tomar um banho
Percival de Souza sobre o momento em que a polícia estava no condomínio logo após Isabella ser jogada pela janela
Em 2022, o artista Hidreley Diao fez uma simulação de como Isabella estaria aos 19 anos. Com desenho e inteligência artificial, ele se baseou em uma foto antiga da menina e de outras quatro crianças mortas em crimes bárbaros para protestar contra a violência infantil.
Isabella de Oliveira Nardoni completaria 21 anos em 2023. Assim como muitos jovens de sua idade, ela teria estudado, seguido uma carreira e, talvez, até tido um relacionamento. Ela poderia ter tudo o que uma adolescente deveria viver, mas foi impedida aos cinco anos de idade, pela pessoa que deveria protegê-la. Hoje, 15 anos depois, uma única pergunta ainda segue na mente de todos os brasileiros que acompanharam a barbárie na época: por quê?