Bajaus: Conheça a tribo com mutação genética para mergulhar e desafiar os limites humanos
Pesquisas revelam que os "nômades do mar" possuem uma mutação genética que potencializa sua capacidade de mergulho.
Por Plox
29/05/2024 10h56 - Atualizado há 4 meses
Pesquisas revelam que os "nômades do mar" possuem uma mutação genética que potencializa sua capacidade de mergulho.
habilidades excepcionais e seleção natural
Conhecidos por suas impressionantes habilidades subaquáticas, os bajaus vivem há séculos nas águas das Filipinas, Malásia e Indonésia. Esse grupo pode permanecer submerso por até 13 minutos, atingindo profundidades de cerca de 60 metros. A capacidade extraordinária desses mergulhadores parece estar relacionada a uma adaptação genética, conforme indica um estudo recente publicado no periódico Cell.
o papel crucial do baço
Estudos anteriores indicaram que mamíferos marinhos, como as focas, possuem baços desproporcionalmente grandes. Melissa Llardo, do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhague, quis verificar se essa característica também estava presente nos bajaus. Durante suas viagens à Indonésia, ela coletou dados de ultrassom e amostras genéticas dos bajaus e de outro grupo, os saluan, que vivem no continente indonésio.
Comparando os dados, Llardo descobriu que o baço dos bajaus é, em média, 50% maior do que o dos saluan. "Se há algo acontecendo no nível genético, deveria ser perceptível no tamanho do baço. E lá observamos essa diferença extremamente significativa", afirmou Llardo.
Além disso, a equipe identificou o gene PDE10A nos bajaus, associado ao controle de um hormônio da tireoide que, em camundongos, influencia o tamanho do baço. Llardo teoriza que a seleção natural, ao longo de mil anos, ajudou os bajaus a desenvolver essa vantagem genética.
adaptabilidade humana sob pressão
Embora o baço maior ajude a explicar a capacidade de mergulho dos bajaus, outras adaptações podem estar em jogo. Richard Moon, da Escola de Medicina da Universidade de Duke, estuda como o corpo humano reage a grandes altitudes e profundidades. Segundo ele, a pressão aumentada durante o mergulho enche os vasos sanguíneos do pulmão de sangue, podendo rompê-los em casos extremos. Treinamento regular poderia ajudar a prevenir esse efeito, além das adaptações genéticas.
Cynthia Beall, antropóloga da Universidade Case Western Reserve, considera as descobertas de Llardo promissoras, mas ressalta a necessidade de mais evidências biológicas mensuráveis para confirmar a influência genética na habilidade de mergulho dos bajaus.
implicações médicas e desafios futuros
As descobertas sobre os bajaus têm implicações médicas significativas, particularmente para condições como a hipóxia aguda, que causa perda rápida de oxigênio e é uma causa comum de morte em emergências médicas. Estudar os bajaus pode ajudar a entender melhor essa condição.
No entanto, o estilo de vida nômade dos bajaus está sob ameaça devido à marginalização social e ao impacto da pesca industrial. Muitos estão deixando o mar, e Llardo teme que sem apoio, as valiosas lições sobre a saúde humana que os bajaus podem proporcionar possam ser perdidas.