Vacina contra chikungunya pode ser disponibilizada em breve no Brasil
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa imunizante
Por Plox
29/07/2024 10h15 - Atualizado há 6 meses
A União Europeia, através da Coalizão para Inovações de Preparação Epidêmica (Cepi), anunciou um investimento de US$ 41,3 milhões (aproximadamente R$ 233 milhões) nos próximos cinco anos para expandir o acesso à vacina contra a chikungunya em países de baixa e média renda. Este financiamento também apoiará estudos de fase 4 em crianças, adolescentes e grávidas em regiões com alta incidência do vírus, como o Brasil.
Desenvolvimento da vacina
A farmacêutica Valneva, responsável pela produção e tecnologia do imunizante, foi a primeira a obter aprovação mundial para uma vacina contra a chikungunya. A União Europeia já havia destinado US$ 24,6 milhões (cerca de R$ 139 milhões) à Valneva para apoiar o desenvolvimento de ensaios clínicos e a comercialização do imunizante. Com este financiamento, a Valneva conduziu, em 2021, estudos de eficácia no Brasil em parceria com o Instituto Butantan, onde a vacina demonstrou uma capacidade de induzir anticorpos contra o vírus em 98,9% dos participantes.
Aprovação e distribuição
A vacina, denominada Ixchiq, recebeu aprovação da FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA) para pessoas acima de 18 anos em novembro de 2023. Posteriormente, um pedido de registro foi enviado à Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que concedeu autorização em junho último, e à Anvisa, que está atualmente analisando o processo.
Expansão de estudos
Richard Hatchett, diretor executivo da Cepi, destacou a importância do acesso à vacina em áreas com alta incidência de chikungunya. "Milhões de pessoas foram afetadas pela chikungunya e, hoje, mais de um bilhão de pessoas vivem em áreas de incidência elevada. Esses estudos clínicos e a transferência de tecnologia irão acelerar o acesso em países epidêmicos, além de informar estratégias futuras de implantação de vacinas e aliviar a carga em saúde de futuros surtos", afirmou.
Planos do Instituto Butantan
Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, mencionou discussões de projetos entre a farmacêutica e a instituição para ampliar os estudos pós-licenciamento da vacina. "O primeiro estudo é de fase 4, e o segundo avaliará se a utilização da vacina em áreas endêmicas apresenta os mesmos dados de imunogenicidade comparados com placebo", explicou. Esses estudos envolverão centros de pesquisa em locais com circulação de chikungunya, principalmente no Brasil, coordenados pelo Butantan.
Situação da chikungunya no Brasil
No Brasil, a chikungunya, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, registrou mais de 356 mil casos até 20 de julho de 2024, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Os sintomas incluem febre alta, dores no corpo e nas articulações, que podem ser incapacitantes. Pessoas com comorbidades podem ter quadros clínicos mais graves.
Produção e desafios
Esper Kallás ressaltou que o Instituto Butantan está preparado para seguir com a fase 4 dos estudos, independentemente do apoio da Valneva, mas que o financiamento adicional acelerará os objetivos. "É importante avançar nos estudos de fase 4 para, no próximo ano, aplicar a vacina, mesmo com o registro de uso provisório da Anvisa pendente à realização desses estudos. Podemos já começar o uso em 2025", afirmou.
Contudo, Kallás mencionou um desafio relacionado à prioridade de produção na fábrica de vacinas do instituto, uma vez que a mesma tecnologia é usada para a vacina contra a dengue. "Precisamos avaliar ainda com o Ministério da Saúde qual será a prioridade, mas o Butantan terá um papel cada vez mais importante na fabricação desses imunizantes na América Latina", concluiu.