Estudo liga uso conjunto de ibuprofeno e paracetamol à resistência bacteriana

Pesquisa australiana revela que analgésicos comuns, quando usados simultaneamente, favorecem mutações em bactérias que dificultam ação de antibióticos

Por Plox

29/08/2025 07h57 - Atualizado há 5 dias

Um estudo conduzido pela Universidade do Sul da Austrália (UniSA) trouxe novos alertas sobre o uso de analgésicos de uso diário. A pesquisa identificou que a combinação de ibuprofeno e paracetamol pode favorecer o desenvolvimento de resistência bacteriana, reduzindo a eficácia de antibióticos como a ciprofloxacina.


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Os testes mostraram que tanto o ibuprofeno quanto o paracetamol, quando administrados de forma isolada, já contribuem para o fortalecimento das bactérias, mas esse efeito se intensifica consideravelmente quando os dois medicamentos são utilizados juntos. A bactéria Escherichia coli, comum em infecções urinárias e intestinais, foi escolhida como foco dos experimentos e apresentou mutações que a tornaram mais resistente não apenas à ciprofloxacina, mas também a outras classes de antibióticos.


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Segundo os pesquisadores, essa foi a primeira vez que se comprovou a relação direta entre o uso simultâneo desses analgésicos e o aumento da resistência antimicrobiana. A descoberta amplia as preocupações em relação à polifarmácia, situação em que pacientes, principalmente idosos em casas de repouso, recebem diversas medicações ao mesmo tempo.


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“Os antibióticos são vitais há muito tempo no tratamento de doenças infecciosas, mas seu uso excessivo e incorreto generalizado levou a um aumento global de bactérias resistentes. Isso é especialmente prevalente em instalações residenciais de cuidados para idosos, onde eles têm maior probabilidade de receber prescrições de vários medicamentos, tornando-se um ambiente ideal para a proliferação de bactérias intestinais resistentes a antibióticos”, destacou a professora associada Rietie Venter, que liderou a pesquisa.

O estudo foi desenvolvido em meio à crescente preocupação internacional com a resistência antimicrobiana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia apontado que, apenas em 2019, 1,72 milhão de pessoas morreram em consequência direta da resistência bacteriana.


Além do ibuprofeno e do paracetamol, a investigação incluiu outros sete medicamentos comumente prescritos em instituições de cuidados para idosos: diclofenaco (anti-inflamatório), furosemida (para pressão alta), metformina (usada em casos de diabetes), atorvastatina (para colesterol), tramadol (analgésico pós-cirúrgico), temazepam (para insônia) e pseudoefedrina (descongestionante).


Os resultados mostraram que as bactérias expostas a múltiplas combinações de medicamentos desenvolveram mutações mais rapidamente e se tornaram altamente resistentes, crescendo de forma acelerada mesmo diante do uso de antibióticos.


A equipe responsável pela pesquisa defende que os protocolos de prescrição sejam revistos, com maior atenção ao impacto das combinações medicamentosas sobre a resistência bacteriana.
“A resistência aos antibióticos não diz respeito mais apenas aos antibióticos; precisamos olhar além das combinações de dois medicamentos. Isso não significa interromper o uso de analgésicos comuns, mas considerar os riscos de suas interações”, alertou Venter.

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