Decisão sobre horário de verão divide comércio e indústria no Brasil

Setores como bares e restaurantes esperam aumento nas vendas, enquanto outros apontam para riscos à saúde e acidentes de trabalho

Por Plox

29/09/2024 10h44 - Atualizado há 3 meses

Enquanto o governo ainda não definiu se trará de volta o horário de verão, suspenso em 2019, a recomendação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aponta para sua implementação como forma de evitar apagões devido à baixa chuva este ano e reduzir a demanda máxima em até 2,9%, o que geraria economia de R$ 400 milhões entre outubro e fevereiro. A decisão final, no entanto, cabe ao Ministério de Minas e Energia (MME).

Foto: Pixabay/ Reprodução

Divisão de opiniões entre setores

Enquanto empresários de bares e restaurantes projetam aumento de até 15% no faturamento com a possibilidade de ampliar o horário de atendimento, setores industriais e de saúde alertam sobre os riscos à saúde e à segurança dos trabalhadores. João Gabriel Pio, da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), destaca que o horário de verão pode causar distúrbios no ciclo do sono, cansaço, irritabilidade e maior incidência de acidentes de trabalho. Pesquisas internacionais, como a publicada no Journal of Applied Psychology, indicam que a mudança de horário está relacionada ao aumento de lesões laborais em segundas-feiras pós-alteração.

Além disso, Walnéia Cristina de Almeida, presidente da Associação Mineira de Medicina do Trabalho, reforça que os impactos da adaptação ao novo horário, como sonolência e presenteísmo, podem durar até duas semanas, sendo necessário que as empresas promovam ações de conscientização para seus colaboradores.

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Preocupações com acidentes de trânsito e aumento de custos

Além dos riscos no ambiente de trabalho, há preocupação com um possível aumento nos acidentes de trânsito nos primeiros dias após a mudança de horário. Estudos no New England Journal of Medicine e no USClaims apontam um crescimento de 6% a 8% no número de ocorrências após o ajuste do horário.

Para o setor tecnológico, a adoção do horário de verão trará desafios adicionais, como a necessidade de ajustes manuais em equipamentos industriais e outros dispositivos não conectados à internet, o que poderá gerar custos para empresas, conforme explica Euclides Chuma, professor da Unicamp e membro do IEEE.

Impactos regionais e no setor aéreo

Nas regiões Norte e Nordeste, onde não se adota o horário de verão, a medida é vista como prejudicial, pois acentuaria as diferenças de fuso horário em relação ao restante do país. A Associação Comercial do Acre, por exemplo, destaca que a mudança traria dificuldades de comunicação com fornecedores localizados em regiões com o mesmo horário de Brasília, além de possíveis perdas comerciais.

O setor aéreo também se mostra contrário à possível mudança. As associações de empresas aéreas solicitam um prazo mínimo de 180 dias para adaptação, alegando que a entrada abrupta do horário de verão causaria alterações em voos nacionais e internacionais, além de possíveis transtornos para passageiros e companhias aéreas.

A economia compensa?

A economia projetada pelo ONS, de cerca de R$ 400 milhões, é vista por alguns especialistas como questionável diante dos transtornos gerados. Alexei Vivan, da Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica (ABCE), ressalta que o impacto financeiro para os consumidores é mínimo, pois a redução no valor das contas dependeria principalmente de uma economia no uso de equipamentos elétricos.

Wadaed Uturbey da Costa, professora da UFMG, acredita que outros problemas do setor elétrico, como a falta de investimentos em linhas de transmissão, são questões mais urgentes que precisam ser tratadas para melhorar a eficiência energética do país

 

Entendimento dos horários no brasil

Caso o horário de verão volte a vigorar, os estados serão distribuídos em diferentes fusos horários em relação a Brasília. Estados como o Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo manterão o mesmo horário de Brasília, enquanto regiões como Rondônia, Amazonas e Roraima terão duas horas a menos, e o Acre ficará com três horas de diferença.

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