Polícia

Estripadores: série de homicídios brutais em presídios paulistas expõe atuação de grupo organizado

Presos indiciados por morte em Potim são ligados a outros assassinatos com espancamento, estripamento e vísceras usadas para escrever ‘CANGAÇO’ em paredes de penitenciárias do interior de SP

29/12/2025 às 09:00 por Redação Plox

Os golpes que mataram o detento Fagner Falcão de Oliveira Silva seguem um roteiro já observado outras vezes no sistema prisional paulista. Primeiro, o espancamento e a imobilização da vítima. Em seguida, quando já não reage, a abertura do abdômen com objetos improvisados, como pedaços de espelho, espetos e cabos de vassoura quebrados.


Fagner Falcão foi morto e estripado.

Fagner Falcão foi morto e estripado.

Foto: Reprodução / TJSP.



Essa dinâmica se repete em diferentes processos e conecta Diogo Batista da Silva Claudino, o Corintiano, Sandro dos Santos, o Pesadelo, e Luan Soledade da Silva a uma série de homicídios marcados por mutilações extremas dentro de presídios.


Luan Soledade da Silva.

Luan Soledade da Silva.

Foto: Reprodução / TJSP.



De acordo com a Polícia Civil, foi com esse mesmo método que os três, ao lado de Helder Dionisio Alves Pereira, foram indiciados pelo assassinato de Fagner na Penitenciária de Potim, no interior de São Paulo. A investigação aponta que o grupo “coleciona” episódios de violência brutal em unidades prisionais, sempre com a mesma assinatura: o estripamento das vítimas.


Sandro dos Santos, o Pesadelo.

Sandro dos Santos, o Pesadelo.

Foto: Reprodução / TJSP.


Padrão de espancamento e mutilação

No caso de Fagner, o ataque começou com chutes na cabeça e sucessivos socos, até que o preso caiu desacordado. Segundo registros policiais, foi nesse momento que Diogo Batista da Silva Claudino passou a cortar o abdômen da vítima com um pedaço de espelho quebrado.


Há registro de uma tentativa de negociação para interromper a agressão, mas sem sucesso. Com o detento já sem reação, os envolvidos teriam retirado partes dos órgãos internos, ainda ensanguentados, e usado esse material para escrever na parede do pavilhão a palavra “CANGAÇO”, em referência à tática de quadrilhas que sitiam cidades com armamento pesado para roubar bancos.


O cenário descrito pela Polícia Civil é de violência extrema e repete o mesmo padrão observado em outros homicídios atribuídos aos mesmos presos.

Crime em Presidente Prudente, em março de 2024

Na madrugada de 14 para 15 de março de 2024, na Penitenciária “Wellington Rodrigo Segura”, em Presidente Prudente, o corpo do detento Anderson da Silva foi encontrado na cela 214, raio 2. Ele apresentava uma incisão profunda no pescoço e outra no abdômen.


As vísceras haviam sido retiradas e colocadas dentro de um balde. Policiais penais relataram que, ao levarem o corpo para o corredor, Sandro dos Santos, o Pesadelo, teria se manifestado diante de um servidor:

Matamos o mano aí, senhor — Sandro dos Santos, o Pesadelo, segundo relato de policiais penais

Inicialmente, outro preso assumiu sozinho a autoria do crime. Porém, em depoimentos posteriores, detentos que afirmaram ter sido ameaçados apontaram Diogo Claudino e Sandro como coautores. A Polícia Civil classificou a morte como marcada por “crueldade e barbárie”, destacando que a vítima não teve qualquer possibilidade de defesa.

Mesma dinâmica em diferentes unidades

Os documentos obtidos indicam que Diogo, Luan e Sandro já haviam sido relacionados a outros homicídios dentro do sistema carcerário paulista antes da morte de Fagner. Em todos os casos, repete-se um padrão: agressão coletiva, uso de armas brancas artesanais e abertura do abdômen das vítimas.


As ocorrências se concentram em presídios do interior de São Paulo, em datas distintas, mas com dinâmica semelhante, o que levou investigadores a tratar os episódios como conectados pela atuação do mesmo grupo.

Em um dos processos, a Polícia Civil ressalta que a repetição do método afasta a hipótese de crimes isolados ou resultantes de explosões momentâneas de violência, reforçando a ideia de uma atuação reiterada e organizada dentro das unidades prisionais.

Antecedentes e perfil dos acusados

As certidões de antecedentes anexadas aos processos mostram que Diogo Batista da Silva Claudino, Sandro dos Santos e Luan Soledade da Silva acumulam passagens por crimes violentos, incluindo homicídios, tentativas de homicídio e delitos cometidos no interior de presídios.


Diogo Batista da Silva Claudino, o Corintiano.

Diogo Batista da Silva Claudino, o Corintiano.

Foto: Reprodução / TJSP.



Os três são descritos como reincidentes e, segundo a polícia, exercem forte intimidação sobre outros presos, o que dificulta a obtenção de depoimentos e contribui para o silêncio inicial em torno dos crimes.

No caso de Presidente Prudente, a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva foi fundamentada, entre outros pontos, no risco de que novas mortes fossem cometidas, com potencial de desencadear outras infrações dentro do sistema penitenciário.

Violência como método de controle

Para os investigadores, a morte de Fagner não é um fato isolado, mas parte de uma sequência de crimes que expõe a fragilidade do controle estatal em alas prisionais dominadas pelo medo e pela intimidação.

A repetição do estripamento, da exposição das vísceras e da mensagem escrita com sangue compõe, segundo a polícia, um padrão de afirmação de poder por parte dos envolvidos.


Nos processos, a brutalidade não aparece apenas como consequência da violência, mas como um método deliberado de atuação. Um método que, ao se repetir, transforma homicídios em marcas de um mesmo grupo criminoso dentro dos presídios paulistas.

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