Governo anuncia expansão do crédito consignado enquanto Banco Central endurece política monetária
A medida, que visa facilitar o acesso ao crédito para aposentados e servidores, pode, no entanto, comprometer a estratégia do Banco Central, que busca justamente reduzir a circulação de dinheiro para frear a inflação.
Por Plox
30/01/2025 07h25 - Atualizado há 8 dias
Enquanto o Banco Central elevava a taxa Selic para conter a inflação e reduzir o ritmo do crédito, os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Luiz Marinho (Trabalho) revelavam planos para triplicar a oferta de empréstimos consignados, ampliando o acesso ao crédito.
Divergências entre governo e Banco Central
Nos dias 28 e 29 de janeiro, os nove diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) passaram mais de 11 horas debatendo a nova taxa de juros, que subiu para 13,25% ao ano. A decisão segue o compromisso de manter a inflação dentro da meta e já prevê um novo aumento na reunião de março, podendo ser ajustado novamente em maio, dependendo do comportamento dos preços e da atividade econômica.

Paralelamente, no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao lado de Luiz Marinho e representantes do setor bancário, anunciava uma meta ambiciosa: aumentar o volume de crédito consignado para R$ 120 bilhões, reduzindo os custos dessas operações. A medida, que visa facilitar o acesso ao crédito para aposentados e servidores, pode, no entanto, comprometer a estratégia do Banco Central, que busca justamente reduzir a circulação de dinheiro para frear a inflação.
Efeitos no mercado financeiro
A decisão do Copom reflete preocupações com o avanço da inflação, pressionada por fatores como o aumento no preço dos combustíveis e dos alimentos. Além disso, a alta do dólar, que passou de R$ 5 para R$ 6,30 no final de 2024, elevou os custos de importação e ampliou a necessidade de um controle mais rigoroso da política monetária.
O mercado financeiro segue atento à condução da política econômica. Investidores cobram do governo um maior rigor fiscal para conter o crescimento da dívida pública. Analistas já projetam que a taxa de juros pode atingir até 16% ao ano até dezembro, caso as medidas para equilibrar as contas públicas não sejam fortalecidas.
Pressão política e incertezas
A falta de alinhamento interno no governo é outro fator que preocupa os investidores. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou publicamente o aumento dos juros, alegando que a decisão do Banco Central foi prejudicial ao país. Paralelamente, lideranças políticas e agentes do mercado avaliam que Haddad enfrenta dificuldades para implementar uma agenda econômica mais rígida. O ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo destacou que o ministro defende um ajuste fiscal mais rigoroso, mas não consegue colocá-lo em prática devido a divergências dentro do governo.